31.10.12

A dor e a Felícia de ter um gatinho

Neste exato momento, estou ganhando uma massagem na barriga. Agora nos braços. Agora cafuné. Tá difícil escrever. É uma gatinha que conheci por aí. Não, ainda não me tornei gay. Não consegui evoluir a esse ponto. A gatinha é uma vira-lata preta que minha irmã ganhou há uns 3 ou 4 anos, mais conhecida como Bacana.
O nome foi um chiste inspirado na velha série Armação Ilimitada. Sim, aquela do Juba e do Lula, quando Zelda Scoth, a Suelen dos anos 80, ~morava~ com dois surfistas. Não me lembro bem como, mas os três "tinham" um menino, o Bacana. Minha irmã morava com dois amigos da faculdade. Quando soube que ganharia uma gata, não pensou duas vezes na hora de escolher o nome.
A Bacana é um doce. Não destrói muito a casa (só o sofá.. ninguém é perfeito), não machuca as pessoas, é sociável, carinhosa, se adapta bem aos lugares, não se mata (já morou em três apartamentos sem tela nas janelas e nunca tentou! ou se mata e ainda tem umas vidas pra gastar) e ainda é preta, o que a torna um objeto de design ambulante e miante.
Pois bem. Minha irmã foi curtir as férias na Bahia e resolveu deixar Bacana com alguém. Como as outras duas irmãs estavam doidas para adotar bichanos, logo nos despusemos a receber Bacana por uns dias. Seria um test-drive, ou melhor, um test-cat.

Mas antes de contar como a experiência está sendo, vou fazer um breve retrospecto da minha velha vontade de ter um gatinho.
Na verdade, sempre curti mais cachorros. Sou apaixonada por eles. Têm o melhor cheiro do mundo quando filhotes, gostam de brincar e são companheiros. OK, quem não sabe disso? O que curto nos cachorros é que estão sempre no clima. Se você está feliz, cheio de energia, eles pulam e correm e rolam com você. Se você está triste e quer chorar, eles encostam a cabeça e ficam ao seu lado, quietinhos. Há quem diga que cães são submissos por isso. Bobagem, eles são é super sensíveis. E não esquentam com quase nada. (Não estamos falando de raças bizarras geneticamente modificadas, claro).
Só que nasci e cresci aqui:


E os dois cachorros que tivemos nesse delicioso quintal corriam, pulavam, jogavam futebol, caçavam passarinhos, uivavam, pegavam chuva, pegavam sol, eram felizes. E todos os cachorros de apartamento que conheci eram meio neuróticos. Mesmo que de leve. Não tinham a paz dos nossos cachorros, nem de longe. Acredito que cachorros precisam gastar energia, correr, correr. Como eles gostam de correr. Por tudo isso, sempre tive pena de cachorro em apartamento. Quando o apartamento é um quarto-e-sala, então... tortura. E nem adianta vir com essa de "levar pra passear" ou "ter cachorro pequeno". Enfim, a foto acima explica porque nunca vou entender e aceitar isso.

Gatos, não. Gatos dormem horas e horas por dia. Não têm tanta energia para gastar. Não ligam tanto para correr e brincar. Gatos são blasé. Gatos se divertem com pouco espaço, só de subir e descer e entrar e sair de coisas. Além disso, não precisam de banho, fazem necessidades em uma caixinha e, claro, são uma companhia incrível.

Baca y yo

Com a Bacana aqui, descobri que gatos são um programa de TV à parte. Cachorros são incríveis para interagir, gatos são uma delícia de assistir. São lânguidos, sexy, esbeltos. Cada movimento é uma exibição. O rabo deles te despreza. O olhar deles te despreza. E o pior é que você vai gostar disso. Cada espreguiçada é um flerte. Gatos são pin-ups. E eles te massageiam, por algum motivo que ninguém nunca vai saber, eles massageiam sua barriga. E ao mesmo tempo que são blasé, são tão dramáticos. O próprio miado é uma manifestação sonora dramática do âmago do gato. Que também deve ser de onde sai aquele barulho de motor que eles fazem ao rrrronronar. 
E o design? O gato deve ser o bicho mais bem desenhado do mundo. Qualquer gato vira-lata de rua cheio de vermes é bonito. Gatos são a coisa mais fotogênica da natureza. Isso explica os milhões de fotos de gatos na sua timeline do Facebook todo ano. 

Há meses, portanto, venho querendo um miau para chamar de meu. Ou de minha. Até porque, dizem que os gatos machos marcam território fazendo xixi pela casa inteira, são mais agressivos, destroem mais móveis, plantas, etc. Gatas entram no cio e ficam chatas como nós, mulheres. Querendo chamar a atenção, temperamentais. Mas podem ser castradas. OK, gatos, também. Então procurei alguém que tivesse uma gatinha cinza, a cor de pelagem que acho mais bonita, para eu adotar. Não é malhada ou amarronzada, é cinza, prateada. Mas não encontrei. Várias pessoas me sugeriram ir a uma das muitas feirinhas de adoção de bichos pela cidade. E fiz isso. Fui duas vezes ao Largo do Machado, mas nos dias não havia a famosa feirinha. Vi uma na Praça General Osório, em Ipanema, mas os bichinhos eram malhados, não curti. Aqui no Largo da Segunda-Feira vi uma linda, cinza de olhos azuis, mas não estava castrada, vacinada, nem nada. Sarna para me coçar, literalmente. 
Então um dia falei com a amiga Natalia, que mora perto do Largo do Machado, ela confirmou que a feira estava lá e lá fui eu, com uma bolsa própria que tenho, desde que me mudei, em punho, além de toda a documentação necessária que minha amiga, como boa jornalista, já havia apurado para mim (aliás, a quem interessar possa, é RG, CPF e um comprovante de residência em seu nome – de preferência do mês, porque cariocas sempre dão um jeitinho de complicar as coisas #prontofalei).

Cheguei lá e logo vi uma fêmea, cinza, linda, exatamente como queria. Só estava super arredia, arisca, batendo nos outros bichinhos que se aproximassem. Achei que ela seria a Amy perfeita. Sim, porque eu havia decidido que meu gato se chamaria Amy. Um dos coordenadores das adoções me disse que ela não havia sido escolhida, me entregou uma prancheta com um cadastro e uma caneta para preenchê-lo. 
As várias páginas traziam perguntas sobre minha profissão, meu salário (ok, era para saber se poderia pagar ração, remédios e outros recursos), minha casa, o que eu faria se o bichinho não se adaptasse, essas coisas. Lá pelas tantas, a pergunta-problema: as janelas são teladas? Como aprendi que a mentira tem patas curtas, marquei "não", já desconfiando que teria problemas por isso. Fiquei em uma fila de uma meia dúzia de pessoas, e quando chegou a minha vez, uma coroa simpática foi folheando meu cadastro. De repente parou e disse "você sabe que tem que telar as janelas, né?" "mas minha irmã tem uma gata que morou em três apartamentos e nunca pulou" "tem que telar. aqui a gente exige". "Ah... então não" "Então não". E assim fui embora com minha sacolinha sem gato nem miado nem carinho.

Explico. Minha casa é um ovo. Para uma pessoa, está ótimo, mas é bem pequena. E como já contei por aqui, não tem vista. As duas janelas são voltadas para os prismas de ventilação do prédio. Sempre achei que essas telas dão impressão de gaiola, reduzir ainda mais a sensação de liberdade. Então havia decidido nunca telar.

Quando Bacana chegou aqui, eu já havia fechado todas as janelas, basculantes, etc, mas uma das primeiras coisas que ela fez reconhecendo o território foi subir até as janelas e olhar lá pra fora. Ficou claro que seria um perigo estar com os vidros abertos. 

Como estou bastante interessada em ter um bichinho, agora com a Bacana aqui, ainda mais, mas não quero emagrecer em uma sauna particular, acho que vou ter que capitular e telar essa joça casa. 

Já percebi que ser recebida com miados e um bichinho correndo pra se embolar nas suas pernas vale a pena. E a pré-disposição levemente selvagem deles para a batalha também é enternecedora. 

Assim que puder, telarei minha casa e adotarei minha própria pequena felina. Que não vai se chamar Amy porque agora tenho uma, ó:


Para terminar, um vídeo do excelente George Carling (para quem não conhece, procure o stand-up dele sobre aborto, provavelmente o melhor stand-up de todos os tempos) sobre gatos. Simplesmente perfeito. Se você gosta de gatos vai rir muito. Se não gosta, talvez se interesse depois desse vídeo.

25.8.12

A mídia descobre as UDUs

(Meninos, não saiam do blog por isso, obrigada)

Um dia desses, uma amiga veio me perguntar se eu daria entrevista à Veja. A pauta era sobre jovens que optaram por morar sozinhos, uma tendência forte no mundo e, cada vez mais, no Brasil também.
O nome "Veja", apesar de ter sido a primeira palavra que li na vida, hoje me causa arrepios. Mas pensei "não é uma matéria sobre política ou algo polêmico... além disso eu poderia divulgar o blog".
Topei, a repórter deu uma passada aqui no blog e adorou, disse que eu tinha o perfil ideal para a matéria e me encheu de perguntas. Aí sumiu e depois de um tempo disse que eles preferem não entrevistar jornalistas.
Não sei se foi bem isso ou porque botei peso na questão financeira, dizendo que está tudo muito caro, que a maioria das pessoas nessa faixa de idade e morando sozinhas é dura, etc, e o público leitor/fonte da Veja está mais pra uma galera que paga um ap grande em Botafogo numa boa. Ou ganha mesada uma ajuda de custo dos pais.

De qualquer maneira, ultimamente comecei a reparar que as UDUs têm sido pauta de diversas publicações. Cheguei a comprar uma revista "Lola" para ler a matéria (não achei online) anunciada na capa sobre o tema. Bacaninha, botava peso no lado feminino da tendência, entrevistando mulheres de várias idades.

Depois saiu uma na TPM (Trip para mulheres), na revista Galileu e, recentemente, na Globo News. Fora todas as outras que devem estar por aí e não li.

Somos a ordem do dia.
É claro que essa tendência não é tão nova, mas nunca foi tão forte.
Resolvi analisar alguns pontos dessa história e como ela é encarada pela mídia.

(pausa para matar uma barata. sim, as grandes sumiram, mas as francesinhas pequenas resistiram ao K-Othrine)

A maioria das matérias fala que morar só já não é sinônimo de solidão. Concordo. Já me senti muito mais só morando em casa cheia. Solidão é estado de espírito. Me sinto muito mais acompanhada vendo um bom filme que escolhi, conversando na internet até altas horas, ouvindo música alta durante a faxina do que numa casa com várias pessoas brigadas ou que mal se encontram devido a horários diferentes, por exemplo. (Não que minha família fosse sempre assim, ok? Antes que alguém reclame :P)


Há um capítulo de Sex And The City, talvez um dos maiores responsáveis culturais (não subestime a cultura pop!) por as mulheres serem a principal novidade entre as UDUs, em que Carrie Bradshaw diz às amigas "Estou muito só. Minha solidão é palpável". É claro que há esses dias. Tem dia em que tudo que alguém que mora só quer é um abraço, um cafuné, uma massagem, e nem estou falando de sexo, mas de calor humano.

Por outro lado, sempre acreditei que quem convive bem com a própria companhia nunca está totalmente só. Aliás, começam a acontecer fenômenos interessantes quando você passa um bom tempo solteiro/sozinho. Eu, por exemplo, aprendi a gostar mais de ir ao cinema sozinha. E às vezes a gente só quer se esparramar na cama de casal à vontade.

Mas SATC é muito 2002. Tem uma nova série, "Girls" que fala justamente sobre garotas de 20 e poucos, 20 e tantos que foram para NY querendo viver a vida da Carrie, com sapatos lindos no closet, vernissages e baladas da nata da sociedade e caíram na real dos preços altos, dos apartamentos cheios de problemas nos encanamentos, contas caríssimas.. dividir o ap... Quem tem HBO, fica a dica. Deve ser divertido. Ou não, quem vir, me conte.

Para isto aqui não virar conversa de botequim, e porque afinal sou jornalista, de 2001 a 2009 o número de moçoilas morando sozinhas no Brasil pulou de 2,3 milhões para 3,6 milhões. Mas 2009 já faz bem mais de 3 anos. Esse número provavelmente já passou dos 4 mi. É muita menina brincando de casinha.

No entanto, um ponto nas matérias da Galileu e da Globo News me deixou ruminando... que história é essa de que quem mora sozinho gasta mais em restaurantes, boates, cinema, bares, etc? O que me irrita nessas revistas é que muitos editores traçam um objetivo antes de escrever a matéria e não param para pensar se se encaixa na realidade brasileira de fato.
Pelo menos no Rio, onde morar (acompanhado ou só, mas só ainda mais) está ficando absurdamente caro, isso não faz sentido. Especialmente para jovens profissionais, que também correspondem à maioria desses personagens.

[Um adendo: esses dias comprei o jornal pra ler na praia e fiquei chocada com os preços que os apartamentos da área em que procurei, Tijuca-Glória: já estão muito mais altos que há 12 meses. Hoje é simplesmente impossível achar algo por menos de R$ 1.000,00, condomínio + aluguel].

Ora, se moro com meus pais ou, vá lá, divido um apartamento com amigos, obviamente gasto muito menos. No máximo ajudo com algumas contas na casa dos pais e, com amigos, os valores são divididos por 2, 3, 4... Eis que resolvo morar sozinha. De repente tenho um aluguel, um condomínio, uma conta de gás (Rio), uma conta de telefone fixo (para quem ainda tem.. isso rende outro post), em alguns lugares conta de água... e vou passar a sair MAIS? Oi?
O que deduzo é que esses editores (o repórter muitas vezes só cumpre ordens) vivem no mundo cor-de-rosa das elites carioca e paulista, onde as pessoas compram a casa inteira na Tok & Stok, têm a internet mais rápida, Apple TV e não precisaram de chá de panela, porque papai e mamãe bancaram tudo. Ok, isso existe. Só não acho que seja representativo o suficiente para pautar uma matéria.

[Isso tudo só faz sentido se compararmos singles e pais/mães de família, que com certeza gastam o triplo ou mais por causa dos pequenos].

É claro que com o tempo as coisas melhoram, mas depois de me mudar passei a ir a muito menos lugares meio caros (ainda bem que o Rio tem milhares de coisas baratas/gratuitas de qualidade para se fazer).
E almoçar na rua? Sem estar no horário do expediente?! Olha, essas pessoas devem ser advogadas, médicas, traficantes ou no mínimo ter "pai rico", como diz um amigo meu. Só isso explica. Comer na rua é caríssimo e qualquer UDU sabe que comprar tudo no supermercado e aprender a fazer é a melhor coisa.

Ah, sei lá, eu sempre achei estranha essa história de escrever pra meia dúzia de rico pingado.

PS: Quem ler/ver alguma outra matéria sobre o tema, me passe o link. Sempre estou curiosa para saber como os coleguinhas falam sobre isso.

22.8.12

Um ano de UDU

Caros leitores

Peço desculpa pela demora.
Explico. Fiquei mais de um mês sem internet em casa. Mas o problema já foi resolvido e cá estamos nós.


Nesse meio tempo, no dia 15 de julho fez um ano que assinei o contrato e fiz a maior parte da mudança para meu apartamento. Nunca vou me esquecer desse dia, foi preciso toda uma força-tarefa. Como estava no trabalho e meu chefe já tinha me liberado algumas tardes para cuidar da papelada e ver apartamentos, pedi a minha mãe, que estava de folga no Rio e minha amiga Raquel, que estudava pela manhã e iria morar comigo, para comandarem a mudança. Não foi fácil. O caminhão passou em nada menos que três casas para pegar tudo. As duas cruzaram a cidade algumas vezes para conseguir levar a papelada à imobiliária, pegar as chaves da casa, pegar móveis em duas casas e trazer para cá - detalhe: com horários encaixadíssimos. No fim,eu que acompanhava tudo do escritório, mal acreditava que tinha dado certo. Isso foi em julho, mas só passei a morar, mesmo, em agosto.

No começo, morria de medo de dormir sozinha. Não só medo, havia um estranhamento. Parecia que tinha entrado na casa de estranhos e estava dormindo lá na ausência deles. Eu não sabia nada sobre a vizinhança, a rua, não fazia ideia se era um prédio com histórico de assaltos. Até hoje tranco a porta do meu quarto para dormir, mas nas primeiras noites eu acordava várias vezes. Cada barulho era um susto.
A casa era um deserto, comparada a hoje. No começo, mal havia onde se sentar. Amigos me ajudaram a montar a cama e o armário, um pedreiro que veio ver a infiltração (que se mostrou nos primeiros dias de uso da casa) acabou instalando a mesinha do quarto, um outro instalou o chuveiro. Meio torto, verdade seja dita.
E a cada coisa que pendurava na parede, cada "pano" que amaciava um pouco o visual duro do lugar eu dizia, empolgada "Raquel! Agora sim, tá com cara de casa!" e ela morria de rir. Eu não fazia de propósito, realmente me surpreendia de estar começando a construir minha primeira casinha, meu primeiro lar. Claro que depois isso virou uma sacanagem que servia até pra benjamim e saboneteira.

Mas para além das mudanças físicas e visuais, a casa passou a significar. Precisei ter crise de riso, amar, chorar, brigar ao telefone, abrir um presente, ouvir música alta, fazer música, declarar imposto de renda, beber, ver DVDs, receber visitas, morrer de calor no verão, acordar com câimbra no inverno, fazer meu primeiro risoto de camarão, tentar tirar a rolha de um vinho, não conseguir e empurrar a bicha até o vinho jorrar na parede inteira, ler meus livros na hora em que quisesse, com silêncio... para perceber esses 63m² como casa.

Já tive raiva desse pequeno refúgio tijucano. Por muito tempo houve baratas, em outra época exalava um inexplicável cheiro estranho, a TV não funcionava, toda semana era um problema novo. Hoje, chegar é um alívio. E foi isso que eu sempre busquei morando sozinha.

Non, je ne regrette rien.

Coisas que aprendi morando 1 ano sozinha

- Antigos objetos de desejo, como roupas e sapatos (para mulheres, pelo menos) ficarão em segundo plano. Da noite para o dia, você só tem olhos para almofadas, molduras, pôsteres,  etc, etc, etc.

- Azeite é a melhor coisa para acabar com rangido de filme de terror em portas. É jogar um pouco sobre as dobradiças e o silêncio voltar a reinar. Imediatamente.

- Geladeira/fogão/máquina descascou? Passe um esmalte branco sobre o buraquinho. Esmalte de unhas, mesmo, que se encontra em qualquer farmácia. Isso impede que o buraquinho vire um buracão e enferruje.

-Se você guarda Nutella na geladeira, um banho maria ou um tempinho no micro-ondas transformam a pasta em uma calda de chocolate. Com morango fica ótimo.

- Uma caneta permanente (antiga "caneta de retroprojetor"... para os maiores de 25) preta é incrível para retocar coisas pretas descascadas ou manchadas de tinta, por exemplo.

- Vai fazer obra? Qualquer obra? Lençol sobre tudo que possa ficar cheio de pó. Muito pior que o pó em si, o cheiro pode impregnar por meses.

- A imobiliária só existe para dar moral para o proprietário e te f... mais.

- Um avental bonito melhora o humor na hora de cozinhar e lavar louça. Sério.

- Sua felicidade diária depende de um dispositivo do qual você nem se lembra, e o nome dele é disjuntor.

- Síndico é um representante direto do demônio.

- Síndico E proprietário é o próprio Satã. Especialmente se ele morar no prédio, como o Seu Élvio.

- Fazer bolo, comprar lírios e lavar a roupa, especialmente com sabão líquido, são aromatizantes sensacionais para a casa.

- O apartamento pode estar quase perfeito. Se faltar um azulejo depois da obra do banheiro, é nisso que você vai pensar sempre.


- Música + faxina = lazer

- Faxina + inverno = tortura (via Amélia Sabino)


- Chão liso + faxina = videocassetada

- Você pode não ter internet, TV a cabo e videogame. Mas tenha música. E livros.

- Por que as pessoas falam tanto de trocar lâmpada? É ridículo de fácil.

- Passar lençol de casal com elástico é a tarefa mais inutilmente cansativa que eu não consigo deixar de fazer.

- Não importa se o síndico ou vizinho é um imbecil: trate-o bem. Amanhã você pode precisar dele. Ou simplesmente pode querer que ele não te encha o saco.

O Perdida na UDU está de volta, amigos.


2.7.12

(Não) vem Kafka comigo!

Tenho este blog desde abril e, apesar de anunciar e anunciar, até hoje não falei das famigeradas e famintas baratas.

Quem mora ou já morou numa UDU sabe: elas são inevitáveis. Seja você pobre, classe mé(r)dia, "bem de vida" ou até rico, um dia esse encontro, tão bem cantado pelos Inimigos do Rei, (entregando a idade) acontecerá. Seu prédio pode ser phyno e dedetyzado, mas tudo nessa vida tem prazo de validade, neam, e a dedetização não foge à regra. Como o meu prédio mal tem sinal de TV e celular, vocês podem imaginar que las cucarachas são minhas housemates há quase um ano.
Bom, até junho, quando finalmente consegui extinguir a espécie (pelo menos lá em casa) e já contarei como.


Na casa dos meus pais, raramente havia baratas. Ok, na casa baixa da infância elas eram muitas e me lembro de eu ou alguma irmã esmagando uma, viva, que estava dentro do tênis no armário. E de quando papai abriu a caixa de gordura da casa e uma enxurrada dos insetos asquerosos saiu correndo pelo chão da garagem, lembrando aqueles ataques de escaravelhos de "A múmia". Nunca vou me esquecer daquela cena na aurora da minha vida em algum verão voltarredondense.
Há mais de 10 anos, no entanto, papai descobriu o tal "remedinho" milagroso que afastou o bicho do nosso convívio para sempre.

Por que então eu não usei logo isso? Bom, como já disse por aqui, penso em ter um gato, um dia.  E por ser muito tóxico, esse remédio não pode ser usado quando se tem animais de estimação. Então fui adiando por meses a aplicação. Só que o gato não vinha e as baratas continuavam fazendo a festa. Já cheguei a encontrar duas (das grandes, cascudas) em um mesmo dia.

A cena da mulher com nojo de barata e fazendo escândalo é um clássico super fiel à realidade. Uma vez gritei tanto por causa de uma barata voadora (que veio em minha direção! pense!!), que ouvi os vizinhos interrompendo sua conversa para saber se alguém estava tentando me matar. Tive que começar a gritar "ai que nojo! morre, barata!" para eles ficarem tranquilos.


O que eu não imaginava é que o nojo passaria paulatinamente a ódio, repulsa, sede de vingança.
Encontrar uma barata na casa, de um acontecimento pitoresco e que exige coragem (porque nunca me esquivei de matá-las, sempre encarei as bichas) passou a me irritar profundamente e acabar com o meu humor em segundos.


Lembro que, uma vez, na frente do famoso Mundial do Largo da Segunda-Feira, parei curiosa para ver uma pilha de LPs super antigos, com cara de anos 50, mesmo, encostados ao pé de um poste. Os nomes eram super divertidos (não me lembro exatamente agora porque bloqueei), músicas de "boas vindas", etc, e as capas tinham ilustrações parecidas com os traços de pin-ups, uma graça.
É claro que não ia pegar no lixo alheio, então comecei a "passar" os LPs com os pés, mas eis que, sob os últimos, surge um ninho de baratas.

Me lembro do gosto de fel. Meu sorriso murchou e, puta, continuei andando para casa. Baratas não têm graça. Baratas são um erro de Deus. Sim, Deus errou quando criou as baratas.

Quando percebi que quase sempre as encontrava na cozinha, mesmo tirando sempre o lixo, comecei a fechar todo dia as janelas do cômodo para o prisma do prédio. As grandes, turistas, pararam de chegar. Mas era tarde demais: uma barata havia parido uma ninhada em algum lugar da minha cozinha.

E dessa vez elas eram albinas, pequenas e magrinhas. As famosas "francesinhas". Algumas eram tão pequenas que uma época eu perdi a paciência e o bom senso e esmagava com a mão, mesmo. Sim, é nojento. Viver sozinha revela facetas nossas que nunca imaginamos ter.

Mas acho que o pior foi encontrar duas baratas acasalando no Dia dos Namorados. Não bastassem os outdoors, comerciais e posts no Facebook, cheguei em casa e vi duas baratas namorando. Morreram literalmente no ato. Não é todo mundo que tem o privilégio de morrer assim.

Me lembro de um dia chegar bêbada em casa e dizer "Vocês sempre estão no fogão, né? Beleza. Agora vocês vão ver". E acendi as quatro bocas e o forno, no máximo. Depois de cinco minutos apareceu uma, desnorteada. Paf. Depois de 10, várias. Depois de 15, as últimas, mais resistentes. Se sobrou alguma, é daquelas que resistem à bomba atômica. Fui dormir realizada. Acho que naquela noite, nem se tivesse ficado com um gatinho no bar dormiria tão feliz.

Mas é claro que outras vieram, até o dia em que acordei determinada a me livrar das baratas. Como?

ASSIM.
E se você tem baratas em casa, caro leitor, cara leitora, esse é o melhor conselho que posso lhe dar.  K-Othrine. Encontra-se em qualquer pet shop de bairro. Custa em média R$ 9 e vai salvar sua vida.

É hoje o dia da alegria

Antes de mais nada, K-Othrine é um veneno, então use luvas. Pode ser a que você usa para fazer faxina (a de lavar louça, não!) ou aquelas de médico, de pintar os cabelos, etc. Qualquer coisa que te separe do líquido branco mágico.

Usando as medidas da bula, você vai diluir uma parte do líquido em outra bem maior de água. Se conseguir encontrar uma seringa  (para usar sem agulha) grande, onde caiba bastante líquido, beleza. Eu procurei e só achei seringa fininha mesmo, teria que ficar "recarregando" toda hora. 
Então peguei uma garrafinha dessas de água mineral, comum, fiz um furo com garfo na tampa e pronto: tinha uma seringa improvisada. 

Depois de diluir o veneno, é hora de esguichar o líquido ao longo do rodapé da casa inteira. Todos os cômodos, sem dó. É bom aproveitar um dia de faxina, quando vai estar tudo limpinho e sequinho. Se tiver um borrifador que possa inutilizar (não vai pegar o das plantas ou de passar roupa, né?), borrife onde as malditas costumam andar: fogão, paredes, geladeira, etc. Não use esses recipientes para mais nada.

Em poucos dias você só encontrará carcaças, imóveis. E nada se compara a essa sensação


A duração do efeito varia, mas depois de seis meses é bom reaplicar.
Hoje minha casa é livre de baratas. O gato pode esperar um pouco mais.

PS: se você tem bichos ou crianças em casa, fuja do K-Othrine.

17.6.12

Rumo ao Mundial

Decidi fazer uma homenagem a um momento delicado da vida de toda UDU: as compras de supermercado. Numa época em que mal temos tempo para respirar e ver um DVD e longe dos tempos em que morávamos com uma família e havia pelo menos seis braços para agilizar o ritual das compras, é preciso encarar essa tarefa doméstica ao menos uma vez ao mês.
Mas se você é (pão-)duro ou não tem outro supermercado por perto, tudo pode ser ainda pior quando você precisa ir ao...



Se você mora no estado do Rio provavelmente já recebeu essa piadinha por e-mail: assim que seu time é descartado do Brasileirão ou, pior, da Libertadores da América, chega um e-mail com o título "Flamengo (ou Fluminense, no caso acima) vai ao Mundial!!". Você abre e precisa dar um sorriso amarelo com essa montagem que nunca vai perder a graça com os outros, mas curiosamente fica completamente idiota quando se refere ao seu time. Quem não mora no Rio, provavelmente já viu isso em Facebooks alheios.

Se você não conhece o Mundial, o supermercado, eu também já fui assim um dia, que saudade. Então permita-me apresentá-lo. Ao contrário de todos os outros, o Mundial é um supermercado com um slogan honesto. Sim, isso existe! Porque "o menor preço total" realmente está lá. É impressionante a diferença no resultado total das compras em comparação a outras redes, como Extra, Carrefour, SuperMarket e, obviamente, Pão de Açúcar e Zona Sul, os mais abusivos do Rio. Reza a lenda que um pão de forma no Zona Sul chega a custar mais de R$ 8. Outro dia uma amiga revoltada postou isso no Facebook. Sorri aliviada por pagar meus R$ 2,60 em um bom pão, graças ao Mundial.

Para começo de conversa, a logomarca do estabelecimento ganha fácil como mais tosca de empresas que já teriam dinheiro para bancar algo melhor:


Mas se o custo em dinheiro é baixo, o custo moral-emocional-físico é alto. Isso porque as instalações do supermercado nascido em 1943 na Av. Presidente Vargas são a pior estrutura já elaborada pela humanidade para um espaço de compras.
Basta dizer que nos corredores passa um carrinho por vez. Como sempre há muito mais de um carrinho em cada corredor, é preciso muita paciência e habilidade na direção para manobras arriscadas como ultrapassagem de velhinhas a 2km por hora. Fora as famílias inteiras que resolvem parar, conversar e engarrafar tudo. Se os carrinhos do Mundial tivessem buzinas teríamos uma Avenida Brasil encaixotada. No início do mês, quando sai o salário da pobraiada (e aí me incluo), o caos é elevado à milésima potência. Só melhora lá pro dia 15. E isso porque a minha filial, do Largo da Segunda-Feira, nem é a pior. Dizem que a da Saens Peña é a sucursal do inferno.

Não satisfeito em ter a pior logo e o pior espaço físico do mundo, o Mundial oferece o pior atendimento da face da Terra. Assim, já aconteceram coisas inexplicáveis como meu carrinho, cheio de ecobags minhas (ou seja, claramente com dono), sumir e, depois de muito rodar, eu encontrá-lo amarrado com dois sacos plásticos (com tanta força que eu poderia jurar que o Hulk tinha se mudado pra Tijuca) em uma estante de Havaianas "pra fazer o remanejamento de peças com avaria", segundo o gerente da seção. Isso quer dizer que tinha uma montanha de porcarias quebradas e estragadas sobre as minhas compras já escolhidas – e sobre as três ecobags. Tive que repassar tudo meu para outro carrinho.
Outra vez eram quase 22h, o supermercado já estava quase fechando, quando uma funcionária entrou na frente de mim e do casal a minha frente na fila. Entendemos que era uma prática da empresa: funcionários não precisavam pegar fila. Ok, faz até sentido. As moças passam o dia ralando, aturando gente mal educada e ganhando um salário de merda super baixo, podem entrar na nossa frente.
Até aí tudo bem, mas em seguida outras três funcionárias resolveram entrar de uma vez, aos risos, na nossa frente. A moça do casal protestou "poxa, uma ok, mas quatro?!" elas continuaram rindo e ignorando. Se dividir entre outros caixas, pra quê?

Mercadorias


Os produtos do Mundial são um caso à parte. Na primeira vez que fiz compras lá, desavisada, cheguei em casa, abri o Nescau e o lacre de metal já estava aberto e cheio de marcas de dedos babados. Respirei fundo, voltei e troquei, não sem antes ouvir umas grosserias da gerente.
Depois desse dia já vi muito saco de batata palha furado. Ai gente. Classe média baixa sofre mais.

Quanto aos frios, a melhor coisa que já ouvi sobre o Mundial foi da amiga Conceição: "o que é o presunto do Mundial? Aquilo não é uma fatia, é um bife!". É isso. Nem preciso me aprofundar no tema depois dessa definição perfeita.

Um estado de espírito


Tudo no Mundial é mais tosco. Então esqueça importados, por exemplo. Se tiver é muito pouco. De orgânicos, só vi ovo caipira até hoje. Quando converso sobre comidinhas com irmãs e amigas, nos últimos 11 meses a frase que mais repito é "No Mundial não tem". A cozinha do consumidor do Mundial é a cozinha de guerra, roots, sem esse papinho de arroz integral, shitake e tofu. E a gente fala assim, mermo, pra fingir que não é doido pra ter essas coisas do Zona Sul no Mundial.

Aliás, outro dia conversando com um amigo, percebemos que na vida existem as pessoas Zona Sul e as pessoas Mundial. Isso não quer dizer exatamente ricos X pobres. A pessoa Zona Sul tem horizontes amplos, gosta de conhecer outras culturas, tem bom gosto, é refinada. A pessoa Mundial não, mas em compensação é pé-no-chão, sem frescuras, sabe se virar. Decidi que sou uma pessoa com bolso de Mundial e alma de (supermercado) Zona Sul.

Mas o Mundial pode acabar conquistando seu coração. Com toda a tosqueira, na fila do pão, depois de um dia cansativo, você pode "pegar amizade" com a tia da frente falando sobre a novela. E ela te dá informações relevantes tipo "hoje tem jogo, começa e acaba mais cedo". Nem quero imaginar puxar papo na fila do Zona Sul com uma tia pseudocult. Talvez falar sobre o novo álbum do Chico Buarque dê certo. Nah.

Alma tijucana

Quando o viaduto que liga a Presidente Vargas à Praça da Bandeira foi construído, a primeira loja precisou ser demolida, e o Mundial se mudou para a Rua do Matoso, na Tijuca (bem perto da minha casa). Se soou familiar e você nem mora no Rio, é a rua do Tim Maia, do Roberto e do Erasmo Carlos.
Depois a rede abriu mais duas unidades no bairro, tendo como único concorrente em quantidade de filiais o gigante Jacarepaguá. Por essas e outras o supermercado tem alma tijucana e isso explica da simpatia à falta de noção no atendimento.

Eu costumo dizer que o Mundial é um circo onde o locutor fala "batata Prínglês" e vira e mexe tem um bêbado ou um maluco para alegrar seu fim de tarde. Como no dia em que a atendente do caixa estava demorando, a fila só crescia e uma coroa revoltada gritou "e a outra lá, batendo papo... tá se achando muito goshtosa, né? vai lá, gatona!!". Sabe esses filmes sobre os popularescos teatros ingleses do século XVII? É por aí, um público que interage com força.

Com todos os problemas, até hoje não vi nada grave como baratas (comuns no "mais barata, mais barata, Extra!") ou produtos estragados. Então enquanto o slogan for verdadeiro estarei lá fazendo economia pesquisas antropológicas.

Para encerrar, procurando fotos do supermercado na internet encontrei um post impagável de um blogueiro que conta a emoção de encontrar um Mundial em... Nova York. Aqui. Ainda achei curioso que ele compare a Tijuca a Volta Redonda :) Mas aí é outro papo.

23.5.12

Conto do Vigário - parte II

Tenho tido muito pouco tempo para postar, então peço desculpas pela demora entre as atualizações do blog.

Quando escrevi sobre o Polo de Decoração de Vigário Geral, muitas fotos que fizemos não "subiram" para o site. Me senti na obrigação de postar mais algumas coisinhas e, como não poderiam faltar, os hits bregas do passeio.

Para quem queria saber o ônibus que pegamos pertinho da saída do metrô de Irajá, foi o 774 Madureira - Jardim América. Passou em cinco minutos.

Tão aí as fotos que faltavam ;)

Olha, eu não sei o que caberia nesses MICRO vasinhos de cerâmica, mas eles são lindos e  o preço,  sem comentários. Deve ser legal colocar uns 10 enfileirados numa janela de banheiro, por exemplo

Me lembro claramente de ver esses baleiros, de vidro reciclado, à venda na Imaginarium. Tem de fusca, kombi e outras formas fofas. Só que em VG custa R$ 12. Na Imaginarium... :)

Para quem acha que só tem coisa "ploc", "fofinha" e "pin-up", não, gente, esse é meu filtro. Tem muitas coisas mais sóbrias, também. O Pedro ficou doido nessas moringas (?). Não me lembro o preço.

Alguns desses porta-bolsas, chaveiros e afins são bem compráveis. 


como essa :) precinhôô


Já falei muito nos pufes, mas é só para o caso de alguém não ter acreditado no preço :)

TOP 3 breguices de Vigário Geral


Ai..


Isso é um telefone. Sem comentários. (abstraiam meu esmalte descascado!)


"Ah, mas sem a pelúcia ficaria até divertido..." "Não."

Típica casinha do subúrbio. Até a volta!

19.5.12

Conto do Vigário



Uma amiga, a Lili, deu a dica, e fiquei a semana inteira ansiosa para hoje chegar. Até então, nunca tinha ouvido falar no Polo de Decoração de Vigário Geral. Sim, a favela de Vigário Geral, no subúrbio da Zona Norte do Rio.

Chamei o Pedro, o mesmo amigo arquiteto que instalou as cortinas aqui de casa, e ele topou desbravar o Polo na hora. Pegamos leve na "night" de sexta e às 7h30 da manhã deste sábado estávamos acordados em nome do dever: eu, apurar e ele, fotografar para este post.

Às 9h, nos encontramos no metrô do Estácio e pegamos a Linha 2 até a estação de Irajá. Daí, pegamos um ônibus, o 774 Madureira - Jardim América e, em menos de meia hora, estávamos na Rua Isidro Rocha, a poucos metros da Avenida Brasil. Dá uma olhada no mapinha do Google. É realmente colado na Brasil.


Vigário Geral

Se você nunca foi a Vigário Geral e só conhece o lugar pela chacina que aconteceu lá em 1993 ou pelos funks de Claudinho e Buchecha, desarme seu preconceito. A chacina já tem quase 20 anos e todo mundo com quem falei do polo só lembrou dela. Que estigma..

Mas é claro, também tenho preconceitos. Sempre que ouço o termo "favela" já penso num morro, parecido com o Alemão, ou o Turano, meu vizinho, com casas de tijolos aparentes e chão de terra, mas a verdade é que existem muitas favelas planas e com casas de alvenaria e asfaltadas, algo muito parecido com vários bairros do subúrbio.
Vale lembrar que VG é o berço do AfroReggae, importante movimento afirmativo das favelas cariocas.

O fato de o polo ficar numa favela na verdade só tornou o atendimento e o público mais calorosos, simpáticos e divertidos (como o Pedro observou, "fazia tempo que eu não via um sorriso tão bonito e espontâneo no comércio"). No quesito atendimento, dez a zero nos bairros de classe média, sem demagogia.

Las cosas

Quem está esperando um post bem apurado... esqueça. Quando cheguei lá fiquei igual a criança em loja de brinquedos. Esqueci de anotar o nome das lojas, a quantidade, de onde era cada produto. É por isso que eu tenho um blog zoado, e não uma publicação importante e chata de decoração :) Is all about fun!

O que importa saber, se você não mora perto, é que é relativamente simples de chegar no local, de carro ou metrô + ônibus. E, como no sábado as lojas começam a fechar às 13h, A boa é chegar por volta das 10h, no máximo 11h. Há menos lojas que na Saara, mas algumas são galpões enormes.

O que tem? Desembucha!

T-U-D-O.
O que você pensar relacionado a decoração doméstica existe em Vigário Geral. Móveis delicados de madeira, mesas de vidro, vidros mil (taças, vasos, jarros, baleiros), pufes a partir de DEZ reais (e uns enooormes com baús a R$ 70, por exemplo), tudo para a cozinha (tudo), mimos para decoração, lustres, abajures, almofadas/colchas/edredons, relógios, telefones, porcelana/cerâmica, tapetes, capachos, coisas de MDF (de medium density fiberboard) no "osso" para pintar e customizar, material para jardinagem, ferramentas, extensões, varões de cortinas, varais, lâmpadas... UFA! Acho que já deu para entender. Bem que a Lili avisou: não dá para voltar de lá de mãos vazias. 

Antes que alguém siga a dica e venha brigar comigo porque achou tudo feio e brega, um aviso: peneira de garimpo na mão e muita disposição para relevar breguices. Aliás, esse é um dos aspectos mais divertidos do passeio: as bizarrices, o kitsch e o "brega mermo". Vi alguns blogs de decoração dizendo que o polo é "decepcionante" e que tudo tem "cara de R$ 1,99". A arte de garimpar não é para todos! ;)




Metrozão pertinho, deixa de ser garotinho juvenil criado a leitinho-com-pêra
Logo na entrada da rua, pufes a R$10, R$ 16 e R$ 25. Comprei um vermelho de R$ 25 e ainda não acredito no preço
Na mesma loja dos pufes na frente, olha que MIMO esse gaveteirozinho com puxador de rosa! R$ 70 o.O


100% subúrbio carioca
Isso era enorme, do tamanho de um melão. Kitsch e muito divertido para a cozinha, a R$ 7,20


Vasinhos e baldinhos de metal esmaltados para flores ou qualquer outra buginganga. Comprei dois a R$ 3,80 cada. Minha mãe tem um igual, que custou R$ 12 no "asfalto".



Olha que fofo esses cofrinhos de cupcake! Bom para presentear mocinhas elegantes

Morremos de rir dos avisos "diretos" nas lojas. Um outro dizia "Quebrou, considere seu!". Mais carioca, impossível.
Canecas fofíssimas por, em média, R$ 6

Descansos de panela interessantes. Esses não eram baratíssimos, devem ser de um bom material. Em média, R$ 40
Clássico do kitsch! No cenário de A grande família tem uma. Acho lindo. E o precinho?
Para quem curte jardinagem, muita coisa. Só não me pergunte para quê serve isso. Parecia uma arma :P
Varões de cortina (tinha de outras cores também) a R$ 7. E eu achando que tinha feito o negócio do século pagando R$ 14 na Usina :)
E o que dizer desse varal de teto, com o mesmo tamanho que o meu e exatamente metade (R$ 35) do preço? ¬¬
Vasos (grandes) muito fofos de cerâmica esmaltada

Breguinha, mas não lebra o Millu do Tintin? o Pedro é que notou a semelhança. R$ 22
Prateleirinhas super úteis e baratas (R$ 17,70, R$ 25,40, R$ 26,35)







O destaque no tamanho da foto é proposital: essas foram as coisas mais lindas do dia. Sempre amei luzinhas meio pisca-pisca, meio camarim. Lembro de ver uma revista ensinando a fazer com luzes de Natal e bolinhas de pingue-pongue, mas uma bolinha sai a R$ 3, por aí. Esses fios têm bem mais que 10 bolinhas e custavam R$ 50. Achei justo. Numa Imaginarium da vida, certamente não custaria menos de R$ 100. Essa é uma das coisas que vão me fazer voltar a VG.


Essa é a Rua Isidro Rocha. Tranquilíssima durante o dia.
 Bom, é isso. Agora que já sabem o caminho, aproveitem e divulguem o polo! Vale a pena conhecer!


13.5.12

Voltando à casa da vó

Dominguinho gostoso na casa da mãe (ou não!), chuvinha beijando o Rio de Janeiro... hoje é dia de ficar em casa.
Tenho recebido sugestões de links de vários amigos e andei conferindo todos nos últimos dias. O que me chamou a atenção é que todos eles parecem buscar um aconchego, um gosto por cuidar da casa (e do tempo que se passa nela) que acho que as gerações 70, 80 e 90 deixaram um pouco de lado, achando meio "careta".
Talvez com razão: era preciso explorar a rua, a vida noturna, homens e mulheres. Nessas décadas as metrópoles explodiram, se modernizaram, e as opções de lazer fora de casa, também. O "bacana", o "chocante" e o "demais" nessas décadas era explorar a rua.
Mas o mundo é assim, quase tudo vai e volta, em ciclos. Um exemplo disso é que minha geração adora as pin-ups (opa! olha meu layout aí) e decoração "vintage" ou "retrô".
É saudade daquele climinha da casa da vó, vontade de resgatar algum calor que as casas foram perdendo ao longo do século 20. Até os anos 90 pegava bem dizer "ai, cara, não sei nem fritar um ovo". Agora o "it" é fazer o que já foi deixado pra trás por tanta gente: cozinhar, costurar, fazer artesanato, decorar a casa com carinho.
Que bom :)

Então vamos a alguns links ótimos sobre tudo relacionado a UDUs.


Gula

Apê.ritivos
Soube desse canal no Youtube por uma matéria fofa da Revista TPM. São dois amigos que moravam no interior e se mudaram para São Paulo (capital) há alguns anos e estranharam bastante no começo. Hoje moram sozinhos. Quem me conhece pode imaginar que me identifiquei na hora. (Menos com a cozinhha americana linda deles). Os dois fazem comidinhas simples e rápidas para quem mora sozinho. Ah, sim, eles parecem ter grana, mas as receitas não tem afetação: gente diferenciada tabém pode.

Ponto fraco: Achei que podia ter mais detalhes e medidas das receitas.
Ponto forte: Gostei do clima despretencioso que.. modéstia à parte... é marca registrada do interior ;)

 Na minha panela
Aqui as receitas são um pouco mais elaboradas. Senti falta de um "sobre nós" para entender quem são os autores. Pelo que entendi, são marido e mulher e moram em Recife. Há muito mais postagens nesse blog.

Ponto fraco: É mais uma crítica de jornalista do que de dona de casa: acho que faltou uma descrição do blog e seus autores.
Ponto forte: As receitas são bem detalhadas.

Para não me estender muito no tema, nesse estilo tem o Panelaterapia, que é mais profissa, escrito por uma psicóloga chamada Tatiana e o Panelinha (aliás, tem outras coisas além de panela numa cozinha né, gente? cadê a criatividade?),  cuja autora eu espero que meu namorado (que nem existe) nunca conheça, porque além de ser linda cozinha super bem (é formada em gastronomia nos EUA). E além de tudo pelo visto ela sabe evitar a TPM com comida. Sai pra lá.

Vaidade

Não sei como é com os homens, mas a diferença entre uma mulher que mora com os pais e uma que tem seu cantinho é que todo o dinheiro que ela pensa em gastar com roupas e sapatos, da noite pro dia, estranhamente, passa a ser destinado a comprar coisas como porta-retratos, almofadas e molduras para quadros. As roupas ficam tão relegadas a segundo plano quanto as Barbies na adolescência. E a gente achava que isso nunca iria acontecer de  novo.

Casa de Filó
Blog sobre decoração que fala sobre tendências e ambientes. A autora também dá consultoria de decoração de interiores e reformas. Bom para ter ideias.

Casa de Valentina
Loja online com mil coisas para decoração com excelente gosto. Não vou falar muito. Só olhem isso e depois isso. Ah, gente! Pulp Fofos! :D

Collector
Uma ex-colega do Colégio Novo, em Volta Redonda, sempre teve bom gosto pra tudo. Ela fez o curso de arte da minha mãe e nessa convivência já dava pra sacar que tinha uma cabeça interessante e gosto alternativo e estético. Essas pessoas marcam porque no interior são meio raras, por mil motivos provincianos. Bom, hoje ela trabalha no Collector, uma loja online de decoração com coisas incríveis de vários cantos do mundo. Ponto fraco: é bem carinho. Mas já sabe: ótimo pra ter ideias. O lema da decoração é: se você não pode comprar, copie! rs

Gecko adesivos de parede
Vááários estilos de adesivos pra dar charme à casa. Estou pensando em pôr um no armarinho do meu corredor (a porta branca pede). Você pode se inspirar e fazer alguma coisa com contact, que se vende em qualquer papelaria. É bem fácil.

Meninos
Essa loja online é super moderninha e estilosa. Apesar do nome, é gringa, mas também vende para o Brasil. Adorei especialmente os porta-copos!

Papel de parede dos anos 70
Autoexplicativo. Depois da onda, nos anos 90 e 2000, de pintar uma parede do quarto ou da sala de uma cor forte, o papel de parede voltou a ser tendência. Tem um mais lindo que o outro! Mas, como a loja é gringa, tem que ter cartão internacional pra comprar  e, pra variar, nem é barato... mas o efeito...

Avareza

Carolina Augusta Home & Lifestyle
Chegamos ao ponto alto do post: esse site é a versão ryca do meu. Isto é, ele se propõe falar de várias coisas relacionadas a casa: culinária, decoração, "lifestyle". Só que, né? É o blog da Carolina Ferraz e da amiga dela, Helena Augusta (coisa phyna! a pessoa já nasce ryca com um nome desses). Linkei mais por diversão, porque esse blog é meio Marie Claire demais pro meu gosto. Mas... o lance das ideias... já sabe ;)

10.5.12

Começando

[Este foi o primeiro post que escrevi para o blog, mas depois acabei achando muito longo, meio over para me apresentar. Eis que então hoje um amigo me pede opiniões sobre mudança. Foi minha deixa.]


Sair da casa dos pais é um rito de passagem muito, muito importante. É sua passagem sem volta para a vida adulta. É claro que é difícil, é cortar o cordão umbilical pela segunda (e definitiva) vez. Além disso, morar só no começo é muito, muito estranho. Para mim, ao menos, foi. Confesso que nos primeiros meses dei uma pirada. Você passa a conviver muito consigo, é uma convivência reveladora (e, às vezes, assustadora). Mas, passada a tensão, é difícil se imaginar em outra vida. E se você está pensando em encarar essa nova fase, não sei como você é, como lida com a vida e o mundo, mas uma coisa eu garanto: você vai crescer.

O lugar

Quem mora em uma metrópole geralmente têm vários problemas para encontrar um lugar para chamar de seu: os preços abusivos de aluguel, a necessidade de um fiador, o estado do apartamento, a necessidade de um espaço minimamente confortável sem pagar muito por isso, a segurança, a localização. E ainda tem que correr para um desgraçado não chegar à imobiliária com a papelada completa antes de você.

Passei nada menos que cinco meses procurando um apê tranquilo. Vi muita coisa caindo aos pedaços com preços subindo às alturas. Cheguei a ficar triste depois de ver uns conjugados tenebrosos mais caros que meu quarto e sala atual. Achei que meu futuro fosse morar num cortiço.
Ser dura já restringiu minha busca: eu podia ter um conjugado ou um quarto-e-sala. Também não tinha como bancar o custo de vida na Zona Sul do Rio (mas nem os europeus tão podendo, né? então beleza). Quanto a isso, tudo bem: eu já morava na Tijuca, bairro que amo, e não precisava de mais espaço que um quarto e sala.
Com meu pai como fiador, alugar foi relativamente fácil e rápido.

O aluguel


Algumas dicas que me deram e outras que eu queria que me dessem na época em que aluguei minha UDU:

Acompanhe diariamente os classificados dos jornais da sua cidade, especialmente no domingo e na segunda-feira, quando os novos anúncios são publicados. Não seja preguiçoso, olhe todos e ligue para todos que parecerem interessantes. Se você é mulher ou gay, esse é seu momento Madonna em "Procura-se Susan desesperadamente". Pegue seu lápis de olho e faça coraçõezinhos nos melhores anúncios. Mentira, você nem vai ter cabeça pra isso.

Você sempre quis fazer isso, que eu sei

Se você não tiver acesso ou não puder comprar os jornais todos os dias, procure sites de anúncios, como o Zap. Foi lá que encontrei  o meu, aliás. A vantagem dos sites é que mostram várias imagens das casas e trazem mais detalhes. Não, isso não é um post pago. Até porque eu ainda sou uma ninguém na blogosfera.

Ainda assim, se preferir, existe a opção de andar pelas ruas dos bairros em que você moraria e deixar seu telefone com porteiros, pedindo para avisarem caso vague algum ap. Não tive tempo para essa peregrinação, mas muita gente consegue assim. Alguns oferecem comissão para porteiros que avisarem sobre aps vagos.

Quem não tem um fiador (que pode ser um parente ou um amigo muito próximo), pode optar pelo cheque-caução, geralmente o triplo do valor do aluguel. Foda, mas é a saída pra muita gente.

Se precisar ir pela manhã ou no meio da tarde olhar ap, das duas uma: 1.peça para uma pessoa confiável como sua mãe ou um amigo de bom gosto que estiver livre ir olhar o ap ou 2.se seu chefe for legal (o meu era, muito), explique a situação e peça a compreensão dele para ir olhar o ap e chegar um pouquinho mais tarde ou sair mais cedo. Se precisar, trabalhe uma hora a mais, vale a pena. Particularmente acho que nada substitui entrar você mesmo e sentir o clima da casa. Mas tem gente que não liga tanto e manda alguém na boa.

Já no local, uma questão super importante é a segurança: evite aps no primeiro ou segundo andar, mais acessíveis a roubos. Se o prédio não tiver porteiro, essa dica vale ainda mais. Preste atenção se perto das suas janelas existe uma árvore, um muro ou algo que poderia facilitar o acesso do ladrão. Se sua cidade é violenta, como a minha, não recomendo casa baixa. Apesar de ser ótimo para ter cachorros e pra fazer um churrasquinho, é muito perigoso e fácil de invadir. Evite.

É lei: prédios de até quatro andares podem ter só escadas. Isso, aliás, barateia bastante o condomínio. Mas pense bem em questões como carregar compras de supermercado ou subir e descer gripado quatro andares. Por outro lado, escadas emagrecem e dão um bom fôlego. Palavra de quem mora no 4º andar ;)

Repare bem na conservação do prédio em geral: pintura, limpeza, se há infiltrações. Nessas horas costumamos ficar empolgados com a possibilidade de achar um lugar e às vezes deletamos alguns problemas. Se ligue.

Conhecendo o apartamento, não tenha vergonha de ser muito chato: acenda e apague todas as lâmpadas, dê a descarga nos vasos, ligue o chuveiro e veja se esquenta, abra e feche todas as portas e janelas, cheque pias, pintura, ventiladores de teto, piso. Se com tudo isso funcionando você ainda vai ter muitos problemas, imagine sem...

Prefira ir de dia, para ver se a claridade é legal. Quanto mais claro, melhor, sempre.

Pense em questões de logística: a rua tem fácil acesso? Tem ônibus, metrô ou táxi por perto? É fácil ir para o centro da cidade e para outras áreas de lá? Tem bar perto?

Antes de assinar o contrato, LEIA a porra toda. Brasileiro odeia ler bula, manual, termo de uso. Mas a meia hora que você vai perder lendo todo o contrato pode te poupar muitas horas de estresse e bateção de boca. É bom pra conhecer seus direitos também. Anote, por exemplo, a data em que você pode sair sem pagar multas. Caso precise se mudar, essa será a melhor hora.

Chaves na mão: troque todos os tambores das trancas do ap. Se não tiver trincos, instale. Se não tiver olho mágico, providencie um.

Para a mudança, escolha um frete indicado por alguém. Serviços toscos podem arranhar ou quebrar seus móveis e sumir com suas coisas. Para montar móveis, peça ajuda de amigos ou parentes.

Se você nunca morou sozinho, faça um chá de panela. Vai ajudar muito. Estamos no século 21, isso vale para homens, também.

Antes de se mudar, faça as contas, veja se vale a pena, para não cair nos problemas do post anterior logo no primeiro mês de casa nova. Mas quer saber? Quando é a hora, é a hora. A gente sente que é e vai ;)

Ah, sim: welcome to the jungle.

7.5.12

Eis a que$tão


Nunca fui muito boa para lidar com dinheiro. Pronto, falei.
Desde pequena gostava de gastar logo todo o dinheiro que ganhasse. Lá em casa nunca ganhamos mesada, o que até acho interessante, (sempre achei estranho criança cheia de dinheiro na mão para gastar com bobagem), mas conseguia um dinheirinho lavando louça quando tinha feijoada na casa da minha avó (eram 11 tios, contando com meu pai, só para ter ideia da "gravidade" da louça) ou, mais tarde, passando a roupa da minha casa. Quando criança, gastava tudo em uma papelaria muito bonitinha do meu bairro em Volta Redonda, aonde ia com minha irmã. A gente chamava de "Armazém".  O Armazém era um verdadeiro ralo para nosso escasso dinheirinho infantil.



Nosso maior investimento eram as canetas Signo, que tinham uma cartela quase infinita de cores. Quem foi criança ou adolescente nos anos 90 certamente se lembra desse vício.

Mais tarde, com a função remunerada de passadeira da casa (que me ensinou a passar muito bem, modéstia à parte huhuhu), comecei a ter alguma noção de economia. Juntando o dinheirinho de cada semana, conseguia comprar roupas, sair à noite, ir ao cinema... no auge, consegui pagar meu primeiro par de lentes de grau, sonho de toda criança que odeia usar óculos.

Mas poucas vezes na vida consegui somar quantias relevantes, fazer poupança. Dinheiro sempre teve facilidade para sumir da minha mão (alô análise do discurso: como culpar o dinheiro).

Em 2010 resolvi sair da casa dos meus pais. Estava no meu primeiro emprego e ganhava pouco, mas não tinha gastos fixos, fora a mensalidade da academia. Atenção: se é o seu caso, esse é o melhor momento na vida para juntar dinheiro  seja para a mudança, seja para viagens, cursos ou qualquer outro plano mais caro.

Pois bem, fiz uma poupança reservando exatamente um terço do meu salário todo mês, por vários meses. O restante eu usava com transporte e cerveja lazer. Com essa poupança consegui financiar minha mudança (que teve várias fases, vários dias, passando por vários endereços), e, mais tarde, comprar meu computador. Depois dividi a casa por sete meses (seis meses com uma pessoa, um com outra).

Mas quando passei a morar realmente sozinha... xi...

Planilha

Quando comecei a me enrolar de verdade com as contas (eu sempre paguei contas em dia, mas a minha sofria), comecei a conversar com amigos sobre isso. Descobri que um deles faz um blog justamente voltado para a minha faixa etária, novos adultos, e para minha classe social: fo classe média baixa. O Leandro foi a segunda pessoa a me falar na planilha de gastos.

Sempre questionei os efeitos da planilha, especialmente quando JÁ se está no vermelho. Administrar uma conta saudável é simples, mas que diferença faria ter uma planilha com a conta negativa? Era o que eu pensava. O que eu não sabia é que a planilha de gastos tem um efeito que vai muito além do cálculo. A planilha é moralizadora. Isso significa que ela te julga. Sim, a sua planilha de gastos tem personalidade, e ela é . É importante que seja assim, porque só assim você irá titubear antes de fazer gastos fúteis.

Classificação

Para aumentar o poder moralizador da minha planilha de gastos, resolvi criar códigos para cada tipo de gasto. Assim, há os gastos que assinalo com "O", de obrigatórios. São as coisas que não posso evitar comprar. Isso inclui transporte, compras de supermercado, contas de telefone, luz, gás, aluguel e alguns remédios. O código "N", de necessário, serve para gastos que eu até poderia evitar, mas são muito importantes. Por exemplo: visitar um parente em um hospital (passagens, comida), comprar um presente para o aniversário da mãe ou do pai, lanches na rua (que poderiam ser feitos em casa, num momento de economia). Aí vem a parte divertida: os gastos "F", de fúteis e "L", de luxo. Fútil todo mundo sabe o que é, aquela coisa gostosa de comprar, tipo um vestido, um CD, uma caixa de chocolates, mas sem a qual você passaria facilmente. E "luxo" eu considero todas as futilidades que saem realmente caro. Por exemplo: uma viagem, uma bota cara, um Play Station, um vinho... ou mesmo coisas mais baratas mas que são mais fúteis que as coisas fúteis.

Por favor: tudo isso levando em conta, é claro, que a pessoa está com problemas financeiros. Numa conta saudável, um salário gordo, tudo isso é mais que bem-vindo. Ninguém aqui está falando que ser rico não é legal.

O que acontece é que quando se é obrigado a anotar todas as noites o que você gastou durante o dia, você passa a gastar durante o dia pensando que vai precisar anotar todos aqueles "efes" e "eles". E você começa a se policiar. Até que seus problemas sejam sanados, essa chatice é necessária, e pode ensinar muito a lidar com futuros perrengues, como perder o emprego, por exemplo, e precisar tocar a vida. Se pensarmos uma situação extrema dessa com filhos, por exemplo, o problema passa a ser um desastre. Daqueles que fazem qualquer um virar insone crônico.

Esses dias, o Jornal da Globo veiculou uma matéria sobre o tema e disponibilizou um modelo de planilha que ajuda a detectar, ainda, quanto do seu salário você realmente pode botar pra jogo. É um arquivo em Excel bem simples e prático de usar.


Dica: Precisando pegar um empréstimo de médio a grande porte, se puder recorrer a amigos bem próximos (o suficiente para ninguém ficar constrangido com o pedido) ou parentes como pais ou irmãos, prefira. Os juros do banco podem se transformar numa dor de cabeça à parte, e ainda maior.


Sua casa é um curso de gestão

Para concluir, como adoro um link, outro dia li um texto bem simpático sugerindo que, antes de abrir um negócio (o que se faz cada vez mais cedo), as pessoas saiam da asa dos pais e tenham sua própria casa para administrar (o que se faz cada vez mais tarde).

Não fecho questão em relação à idade de sair da casa dos pais, é questão de foro íntimo, mas confesso que acho um tanto quanto bizarro passar dos 30 vivendo a lógica e as regras de outros adultos. O post tem lá sua verdade.