22.8.12

Um ano de UDU

Caros leitores

Peço desculpa pela demora.
Explico. Fiquei mais de um mês sem internet em casa. Mas o problema já foi resolvido e cá estamos nós.


Nesse meio tempo, no dia 15 de julho fez um ano que assinei o contrato e fiz a maior parte da mudança para meu apartamento. Nunca vou me esquecer desse dia, foi preciso toda uma força-tarefa. Como estava no trabalho e meu chefe já tinha me liberado algumas tardes para cuidar da papelada e ver apartamentos, pedi a minha mãe, que estava de folga no Rio e minha amiga Raquel, que estudava pela manhã e iria morar comigo, para comandarem a mudança. Não foi fácil. O caminhão passou em nada menos que três casas para pegar tudo. As duas cruzaram a cidade algumas vezes para conseguir levar a papelada à imobiliária, pegar as chaves da casa, pegar móveis em duas casas e trazer para cá - detalhe: com horários encaixadíssimos. No fim,eu que acompanhava tudo do escritório, mal acreditava que tinha dado certo. Isso foi em julho, mas só passei a morar, mesmo, em agosto.

No começo, morria de medo de dormir sozinha. Não só medo, havia um estranhamento. Parecia que tinha entrado na casa de estranhos e estava dormindo lá na ausência deles. Eu não sabia nada sobre a vizinhança, a rua, não fazia ideia se era um prédio com histórico de assaltos. Até hoje tranco a porta do meu quarto para dormir, mas nas primeiras noites eu acordava várias vezes. Cada barulho era um susto.
A casa era um deserto, comparada a hoje. No começo, mal havia onde se sentar. Amigos me ajudaram a montar a cama e o armário, um pedreiro que veio ver a infiltração (que se mostrou nos primeiros dias de uso da casa) acabou instalando a mesinha do quarto, um outro instalou o chuveiro. Meio torto, verdade seja dita.
E a cada coisa que pendurava na parede, cada "pano" que amaciava um pouco o visual duro do lugar eu dizia, empolgada "Raquel! Agora sim, tá com cara de casa!" e ela morria de rir. Eu não fazia de propósito, realmente me surpreendia de estar começando a construir minha primeira casinha, meu primeiro lar. Claro que depois isso virou uma sacanagem que servia até pra benjamim e saboneteira.

Mas para além das mudanças físicas e visuais, a casa passou a significar. Precisei ter crise de riso, amar, chorar, brigar ao telefone, abrir um presente, ouvir música alta, fazer música, declarar imposto de renda, beber, ver DVDs, receber visitas, morrer de calor no verão, acordar com câimbra no inverno, fazer meu primeiro risoto de camarão, tentar tirar a rolha de um vinho, não conseguir e empurrar a bicha até o vinho jorrar na parede inteira, ler meus livros na hora em que quisesse, com silêncio... para perceber esses 63m² como casa.

Já tive raiva desse pequeno refúgio tijucano. Por muito tempo houve baratas, em outra época exalava um inexplicável cheiro estranho, a TV não funcionava, toda semana era um problema novo. Hoje, chegar é um alívio. E foi isso que eu sempre busquei morando sozinha.

Non, je ne regrette rien.

Coisas que aprendi morando 1 ano sozinha

- Antigos objetos de desejo, como roupas e sapatos (para mulheres, pelo menos) ficarão em segundo plano. Da noite para o dia, você só tem olhos para almofadas, molduras, pôsteres,  etc, etc, etc.

- Azeite é a melhor coisa para acabar com rangido de filme de terror em portas. É jogar um pouco sobre as dobradiças e o silêncio voltar a reinar. Imediatamente.

- Geladeira/fogão/máquina descascou? Passe um esmalte branco sobre o buraquinho. Esmalte de unhas, mesmo, que se encontra em qualquer farmácia. Isso impede que o buraquinho vire um buracão e enferruje.

-Se você guarda Nutella na geladeira, um banho maria ou um tempinho no micro-ondas transformam a pasta em uma calda de chocolate. Com morango fica ótimo.

- Uma caneta permanente (antiga "caneta de retroprojetor"... para os maiores de 25) preta é incrível para retocar coisas pretas descascadas ou manchadas de tinta, por exemplo.

- Vai fazer obra? Qualquer obra? Lençol sobre tudo que possa ficar cheio de pó. Muito pior que o pó em si, o cheiro pode impregnar por meses.

- A imobiliária só existe para dar moral para o proprietário e te f... mais.

- Um avental bonito melhora o humor na hora de cozinhar e lavar louça. Sério.

- Sua felicidade diária depende de um dispositivo do qual você nem se lembra, e o nome dele é disjuntor.

- Síndico é um representante direto do demônio.

- Síndico E proprietário é o próprio Satã. Especialmente se ele morar no prédio, como o Seu Élvio.

- Fazer bolo, comprar lírios e lavar a roupa, especialmente com sabão líquido, são aromatizantes sensacionais para a casa.

- O apartamento pode estar quase perfeito. Se faltar um azulejo depois da obra do banheiro, é nisso que você vai pensar sempre.


- Música + faxina = lazer

- Faxina + inverno = tortura (via Amélia Sabino)


- Chão liso + faxina = videocassetada

- Você pode não ter internet, TV a cabo e videogame. Mas tenha música. E livros.

- Por que as pessoas falam tanto de trocar lâmpada? É ridículo de fácil.

- Passar lençol de casal com elástico é a tarefa mais inutilmente cansativa que eu não consigo deixar de fazer.

- Não importa se o síndico ou vizinho é um imbecil: trate-o bem. Amanhã você pode precisar dele. Ou simplesmente pode querer que ele não te encha o saco.

O Perdida na UDU está de volta, amigos.


6 comentários:

  1. É isso mesmo prima!!!! Meus olhos brilham quando acho alguma coisa legal para a casa. Isso não quer dizer que não brilhem por um vestido lindo, rsrsrs.
    Hoje já me viro muito bem sozinha, apesar de às vezes precisar da ajuda de algum primo homem mais jeitoso. Aos poucos vamos percebendo que não é um bicho de sete cabeças.
    Como é bom ter a própria casa!!!

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  2. Irmã prendada passadeira de lençol de malha...
    Que inveja!!!

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    1. Passar é fácil. Difícil é dobrar :S

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  3. Táia,

    Que bom que você voltou a escrever!!

    Só uma dicazinha: tenha na sua casa uma latinha de óleo WD-40. Não é caro e acaba durando bastante tempo. Quando a dobradiça da porta ficar fazendo barulho estranho, bote o WD-40, que já vem com um caninho para espirrar direto na dobradiça. É mais seguro e não prejudica o metal. Não sei se o azeite estraga a dobradiça, mas pelo menos você poderia usá-lo para comidas...

    Bjs!

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    1. Ah, sim, esse é o ideal. O meu é um truque pra quando não se tem o ideal. Mas azeite não estraga não ;)

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  4. Adorei o blog. Um amigo me indicou.

    Vou visitá-la mais vezes, morei anos sozinha e agora moro com meu noivo. Ainda é estranho, quando morava com minha familia éramos 8 pessoas numa casa. Demorei a me adaptar, mas hoje não quero outra vida.

    Saudações rubro-negras, beijão.

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