31.10.12

A dor e a Felícia de ter um gatinho

Neste exato momento, estou ganhando uma massagem na barriga. Agora nos braços. Agora cafuné. Tá difícil escrever. É uma gatinha que conheci por aí. Não, ainda não me tornei gay. Não consegui evoluir a esse ponto. A gatinha é uma vira-lata preta que minha irmã ganhou há uns 3 ou 4 anos, mais conhecida como Bacana.
O nome foi um chiste inspirado na velha série Armação Ilimitada. Sim, aquela do Juba e do Lula, quando Zelda Scoth, a Suelen dos anos 80, ~morava~ com dois surfistas. Não me lembro bem como, mas os três "tinham" um menino, o Bacana. Minha irmã morava com dois amigos da faculdade. Quando soube que ganharia uma gata, não pensou duas vezes na hora de escolher o nome.
A Bacana é um doce. Não destrói muito a casa (só o sofá.. ninguém é perfeito), não machuca as pessoas, é sociável, carinhosa, se adapta bem aos lugares, não se mata (já morou em três apartamentos sem tela nas janelas e nunca tentou! ou se mata e ainda tem umas vidas pra gastar) e ainda é preta, o que a torna um objeto de design ambulante e miante.
Pois bem. Minha irmã foi curtir as férias na Bahia e resolveu deixar Bacana com alguém. Como as outras duas irmãs estavam doidas para adotar bichanos, logo nos despusemos a receber Bacana por uns dias. Seria um test-drive, ou melhor, um test-cat.

Mas antes de contar como a experiência está sendo, vou fazer um breve retrospecto da minha velha vontade de ter um gatinho.
Na verdade, sempre curti mais cachorros. Sou apaixonada por eles. Têm o melhor cheiro do mundo quando filhotes, gostam de brincar e são companheiros. OK, quem não sabe disso? O que curto nos cachorros é que estão sempre no clima. Se você está feliz, cheio de energia, eles pulam e correm e rolam com você. Se você está triste e quer chorar, eles encostam a cabeça e ficam ao seu lado, quietinhos. Há quem diga que cães são submissos por isso. Bobagem, eles são é super sensíveis. E não esquentam com quase nada. (Não estamos falando de raças bizarras geneticamente modificadas, claro).
Só que nasci e cresci aqui:


E os dois cachorros que tivemos nesse delicioso quintal corriam, pulavam, jogavam futebol, caçavam passarinhos, uivavam, pegavam chuva, pegavam sol, eram felizes. E todos os cachorros de apartamento que conheci eram meio neuróticos. Mesmo que de leve. Não tinham a paz dos nossos cachorros, nem de longe. Acredito que cachorros precisam gastar energia, correr, correr. Como eles gostam de correr. Por tudo isso, sempre tive pena de cachorro em apartamento. Quando o apartamento é um quarto-e-sala, então... tortura. E nem adianta vir com essa de "levar pra passear" ou "ter cachorro pequeno". Enfim, a foto acima explica porque nunca vou entender e aceitar isso.

Gatos, não. Gatos dormem horas e horas por dia. Não têm tanta energia para gastar. Não ligam tanto para correr e brincar. Gatos são blasé. Gatos se divertem com pouco espaço, só de subir e descer e entrar e sair de coisas. Além disso, não precisam de banho, fazem necessidades em uma caixinha e, claro, são uma companhia incrível.

Baca y yo

Com a Bacana aqui, descobri que gatos são um programa de TV à parte. Cachorros são incríveis para interagir, gatos são uma delícia de assistir. São lânguidos, sexy, esbeltos. Cada movimento é uma exibição. O rabo deles te despreza. O olhar deles te despreza. E o pior é que você vai gostar disso. Cada espreguiçada é um flerte. Gatos são pin-ups. E eles te massageiam, por algum motivo que ninguém nunca vai saber, eles massageiam sua barriga. E ao mesmo tempo que são blasé, são tão dramáticos. O próprio miado é uma manifestação sonora dramática do âmago do gato. Que também deve ser de onde sai aquele barulho de motor que eles fazem ao rrrronronar. 
E o design? O gato deve ser o bicho mais bem desenhado do mundo. Qualquer gato vira-lata de rua cheio de vermes é bonito. Gatos são a coisa mais fotogênica da natureza. Isso explica os milhões de fotos de gatos na sua timeline do Facebook todo ano. 

Há meses, portanto, venho querendo um miau para chamar de meu. Ou de minha. Até porque, dizem que os gatos machos marcam território fazendo xixi pela casa inteira, são mais agressivos, destroem mais móveis, plantas, etc. Gatas entram no cio e ficam chatas como nós, mulheres. Querendo chamar a atenção, temperamentais. Mas podem ser castradas. OK, gatos, também. Então procurei alguém que tivesse uma gatinha cinza, a cor de pelagem que acho mais bonita, para eu adotar. Não é malhada ou amarronzada, é cinza, prateada. Mas não encontrei. Várias pessoas me sugeriram ir a uma das muitas feirinhas de adoção de bichos pela cidade. E fiz isso. Fui duas vezes ao Largo do Machado, mas nos dias não havia a famosa feirinha. Vi uma na Praça General Osório, em Ipanema, mas os bichinhos eram malhados, não curti. Aqui no Largo da Segunda-Feira vi uma linda, cinza de olhos azuis, mas não estava castrada, vacinada, nem nada. Sarna para me coçar, literalmente. 
Então um dia falei com a amiga Natalia, que mora perto do Largo do Machado, ela confirmou que a feira estava lá e lá fui eu, com uma bolsa própria que tenho, desde que me mudei, em punho, além de toda a documentação necessária que minha amiga, como boa jornalista, já havia apurado para mim (aliás, a quem interessar possa, é RG, CPF e um comprovante de residência em seu nome – de preferência do mês, porque cariocas sempre dão um jeitinho de complicar as coisas #prontofalei).

Cheguei lá e logo vi uma fêmea, cinza, linda, exatamente como queria. Só estava super arredia, arisca, batendo nos outros bichinhos que se aproximassem. Achei que ela seria a Amy perfeita. Sim, porque eu havia decidido que meu gato se chamaria Amy. Um dos coordenadores das adoções me disse que ela não havia sido escolhida, me entregou uma prancheta com um cadastro e uma caneta para preenchê-lo. 
As várias páginas traziam perguntas sobre minha profissão, meu salário (ok, era para saber se poderia pagar ração, remédios e outros recursos), minha casa, o que eu faria se o bichinho não se adaptasse, essas coisas. Lá pelas tantas, a pergunta-problema: as janelas são teladas? Como aprendi que a mentira tem patas curtas, marquei "não", já desconfiando que teria problemas por isso. Fiquei em uma fila de uma meia dúzia de pessoas, e quando chegou a minha vez, uma coroa simpática foi folheando meu cadastro. De repente parou e disse "você sabe que tem que telar as janelas, né?" "mas minha irmã tem uma gata que morou em três apartamentos e nunca pulou" "tem que telar. aqui a gente exige". "Ah... então não" "Então não". E assim fui embora com minha sacolinha sem gato nem miado nem carinho.

Explico. Minha casa é um ovo. Para uma pessoa, está ótimo, mas é bem pequena. E como já contei por aqui, não tem vista. As duas janelas são voltadas para os prismas de ventilação do prédio. Sempre achei que essas telas dão impressão de gaiola, reduzir ainda mais a sensação de liberdade. Então havia decidido nunca telar.

Quando Bacana chegou aqui, eu já havia fechado todas as janelas, basculantes, etc, mas uma das primeiras coisas que ela fez reconhecendo o território foi subir até as janelas e olhar lá pra fora. Ficou claro que seria um perigo estar com os vidros abertos. 

Como estou bastante interessada em ter um bichinho, agora com a Bacana aqui, ainda mais, mas não quero emagrecer em uma sauna particular, acho que vou ter que capitular e telar essa joça casa. 

Já percebi que ser recebida com miados e um bichinho correndo pra se embolar nas suas pernas vale a pena. E a pré-disposição levemente selvagem deles para a batalha também é enternecedora. 

Assim que puder, telarei minha casa e adotarei minha própria pequena felina. Que não vai se chamar Amy porque agora tenho uma, ó:


Para terminar, um vídeo do excelente George Carling (para quem não conhece, procure o stand-up dele sobre aborto, provavelmente o melhor stand-up de todos os tempos) sobre gatos. Simplesmente perfeito. Se você gosta de gatos vai rir muito. Se não gosta, talvez se interesse depois desse vídeo.

Um comentário:

  1. Olha a propaganda enganosa, só a Bacana é assim tão bacana!! rssss Mas sim, concordo com tudo. Quer dizer, não dá pra prometer carinhos e massagens sem fim, pq realmente nem todo gato é assim e gato só faz as coisas quando está a fim. Tive uma gata que massageava a minha mãe (só a barriga e só se ela estivesse deitava). Meu gato atual já miou muito antes de o meu pai chegar, em cima da mesa ao lado da porta. Hoje em dia só faz às vezes. Ele já caiu 4 vezes da janela, não se adapta fácil, arranhou sofá, cadeiras, destruiu porta de armário subindo em cima dele, dp de velho deu pra xeretar a nossa comida na hora das refeições. Tem gatos que tomam banho numa nice no tanque, outros fogem que nem condenados. Fora que todas as roupas e todos os locais vão ter pelos, tem q abstrair (e ter uma escova pra tirar o excesso). Meu gato até dorme junto na cama, mas se vc se mexer ele sai. Eu lembro de ficar beeeeem paradinha pra ele não sair rssss. Mas a grande graça de tudo é que um animal, seja ele qual for, dá vida à casa. Quando pegamos nossa primeira gata, nossa vida mudou completamente, a casa ficou mais animada. As poses são um deleite, descobrir lugarzinhos onde ele se esconde, descobrir aquele "montinho" na cama pq ele entrou debaixo do cobertor. Ter um gato não é brinquedo não, mas é muito bom!!

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