30.4.12

Pequenos prazeres do prédio 79

O síndico do meu prédio, para minha alegria, é pai da proprietária do meu apartamento. Isso quer dizer que foi com ele que eu sempre tive que tratar das pendengas como infiltrações, interfone estragado, torneira, disjuntor, vaso e, mais recentemente, a obra do banheiro.
Apesar de ter certeza de que meu síndico não navega pela internet, vamos chamá-lo por prudência de Élvio (o nome é tão feio quanto ou pior que isso).
Seu Élvio tem um temperamento peculiar... digamos que não seja exatamente um gentleman. Em outras palavras, Élvio é um cavalo. Já discutiu várias vezes comigo aos berros, tanto ao vivo, distribuindo perdigotos, quanto ao telefone em horário de expediente.
Além disso, se recusou a resolver vários problemas do apartamento, me obrigando a pagar benfeitorias para a casa.
Ok, aprendemos a abstrair.

Eis que hoje percebo que tem visita na casa deles: uma criancinha de uns três anos, pela voz. Um neto. Está há horas brincando, pulando, cantando. E lá pelas tantas o moleque grita: "Mamãe, quero sentar na cadeira do vovô PAULO!" (silêncio) "Não é o vovô Paulo, filho, o vovô Paulo é o meu pai, esse é o vovô Élvio..." (mais silêncio).

Não pude conter um risinho. O que pode ser pior para um avô? Me sinto vingada.
Agora... se o vovô Élvio fosse legal...


28.4.12

Iguarias proibidas para UDUs


Uma coisa que você só descobre quando mora só é que algumas comidas estarão barradas na sua cozinha, até que você arrume um housemate (não tem uma palavra em português que substitua isso bem) ou junte os trapos com alguém.
É, meu amigo, minha amiga, as bactérias serão mais rápidas que você na apetitosa tarefa de acabar com suas compras do mês.
O que me intriga é: se eu, que entrei para esse universo há apenas nove meses, já percebi isso, porque a indústria alimentícia não percebe?

Essa comida se autodestruirá em 3 dias

Vamos à lista dos alimentos mais sensíveis e autodestrutivos da geladeira:

1. Requeijão
Em uma semana, com mais da metade do queijo no pote, o troço azeda. E não, eu não "meto o dedo" ou "lambo a faca" como perguntaram no trabalho. Eu me pergunto por que diabos a Itambé, a Aviação, a Polenghi e os genéricos não fazem um pote com metade do peso líquido, que chegasse ao fim com dignidade, sem aquele cheiro de criança mal lavada.

2. Alface
A gente ouve em todo lugar que comer folha é essencial, que é fonte de fibra, cálcio-ferro-fósforo-vitamina-A. Então um dia vai fazer compras no supermercado ou na feira e resolve esquecer o que aconteceu com a última alface e apostar de novo na alimentação saudável e inteligente. Escolhe a alface mais linda e verdinha, bota orgulhosa no carrinho,chega em casa e lava, bota de molho com todos aqueles truques que a mamãe ensinou, da água sanitária, troca água, tira excesso de água, bota num tupperware e guarda na geladeira. [Aliás eu descobri o último lugar que vende Tupperware original, e fiquei tentando visualizar pessoas que SÓ comprem Tupperware original]. E guarda na geladeira. E dia após dia aquela alface verdinha e crespa vai virando uma massa homogênea verde escura, com um vinho de alface no fundo do pote. Por mais que você vire a louca do sanduíche, faça sanduíche de manhã, à noite (claro, sempre com alface), se você come fora durante a semana NÃO vai conseguir dar conta de um pé de alface sozinho. E você não pode comer folha na rua porque é perigoso, então... adeus alimentação inteligente.Dizem que a saída é comprar mix de folhas, mas... acho que o Mundial não tem. Cientistas japoneses, façam uma alface menor!

3. Refrigerante

Acho que quem teve uma infância orgânica como a minha, dessas com mães que só dão suco de fruta feito na hora e em que refrigerante é um território meio proibido, reservado apenas para os porres mirins em aniversários ou no dia de comer coisas gordurosas como frango, vai entender. Para pessoas com nosso histórico, até hoje refrigerante é uma coisa meio "festa", meio "abra a felicidade", meio desejo proibido. Os mais malucos, como eu, até evitam tomar sempre, para continuar mantendo a magia. Então comprar uma pet de dois litros de Coca-Cola é catártico. A gente usa a visita de amigos como pretexto pra isso. E aí que o amigo se despede e o refrigerante fica lá. Uma garrafa inteira de gás pra fugir. E ele foge. Rápido, porque, lembra? A gente não bebe sempre, pra manter a magia. Esses dias minha irmã confessou que toma, mesmo assim. Pior que acho que eu também. OK, é só comprar um refrigerante menor. Mas aí não é catártico.

Reage, reage!
Reage, reage!
4. Cacho inteiro de bananas

Fica lindo na fruteira, mas você sabe que vai estragar. Passei a comprar três. É meio frustrante, mas o quê nessa vida não é..

5. Coisas que tem que cortar ao meio porque você sozinho não come

Limão, tomate. Não vou tomar um litro de limonada nem comer um tomate inteiro por salada pra mudar isso, desculpa.

O legal no mundo da geladeira são as experiências psicodélicas do mofo. Já vi arroz ficar rosa e feijão virar um clipe da Björk. Pense num clipe da Björk com bolas brancas amorfas de pelo.

Pra terminar, fui pesquisar Tupperware no Google e descobri que se vende por revistinha como Avon e que o Romero Britto assinou uma coleção. Risos.

E aí? Que comida sempre estraga na UDU de vocês?

26.4.12


Dia desses, listava todos os problemas que meu apartamento (onde moro há nove meses) já me proporcionou. A lista não parava de crescer e fiquei surpresa com quantas picas complicações precisei resolver sozinha (ou quase) durante esse tempo. Ao mesmo tempo, hoje não consigo me imaginar morando com meus pais, e já tive experiências insólitas o suficiente para entender que, dividir casa, só com amigo de infância, daqueles que você conhece mais do que seus irmãos. Morar sozinha, ainda uma novidade absoluta para mim, que venho de duas famílias gigantes e um núcleo familiar grande, é uma delícia e é uma merda. É uma merda, mas é uma delícia.
Venho adiando a ideia de fazer um blog há anos. Já tive alguns (não procurem, por favor, eu tinha 20 anos), quando todo mundo teve, quando não havia Orkut, Twitter, Facebook, e a “social” era feita esmiuçando o que acontecia no dia para quem quisesse ler.
Por isso, este blog é sobre morar só, e só. 
Minha ideia é dar (e receber, por favor) dicas de cozinha para uma pessoa (Miojo, nunca), ideias baratas de decoração (afinal sou uma fodida jornalista em início de carreira), truques de limpeza, e toques sobre segurança, boa vizinhança (...), obras, ter ou não ter bichos de estimação e, claro... como matar baratas sem que isso arrase seu dia. Entre os 7 milhões de moradores solitários do Brasil, alguém deve saber.

Bem-vindos a minha UDU.

Leiam aqui o texto do Xico Sá que inspirou este blog.