(Meninos, não saiam do blog por isso, obrigada) |
O nome "Veja", apesar de ter sido a primeira palavra que li na vida, hoje me causa arrepios. Mas pensei "não é uma matéria sobre política ou algo polêmico... além disso eu poderia divulgar o blog".
Topei, a repórter deu uma passada aqui no blog e adorou, disse que eu tinha o perfil ideal para a matéria e me encheu de perguntas. Aí sumiu e depois de um tempo disse que eles preferem não entrevistar jornalistas.
Não sei se foi bem isso ou porque botei peso na questão financeira, dizendo que está tudo muito caro, que a maioria das pessoas nessa faixa de idade e morando sozinhas é dura, etc, e o público leitor/fonte da Veja está mais pra uma galera que paga um ap grande em Botafogo numa boa. Ou ganha
De qualquer maneira, ultimamente comecei a reparar que as UDUs têm sido pauta de diversas publicações. Cheguei a comprar uma revista "Lola" para ler a matéria (não achei online) anunciada na capa sobre o tema. Bacaninha, botava peso no lado feminino da tendência, entrevistando mulheres de várias idades.
Depois saiu uma na TPM (Trip para mulheres), na revista Galileu e, recentemente, na Globo News. Fora todas as outras que devem estar por aí e não li.
Somos a ordem do dia.
É claro que essa tendência não é tão nova, mas nunca foi tão forte.
Resolvi analisar alguns pontos dessa história e como ela é encarada pela mídia.
(pausa para matar uma barata. sim, as grandes sumiram, mas as francesinhas pequenas resistiram ao K-Othrine)
A maioria das matérias fala que morar só já não é sinônimo de solidão. Concordo. Já me senti muito mais só morando em casa cheia. Solidão é estado de espírito. Me sinto muito mais acompanhada vendo um bom filme que escolhi, conversando na internet até altas horas, ouvindo música alta durante a faxina do que numa casa com várias pessoas brigadas ou que mal se encontram devido a horários diferentes, por exemplo. (Não que minha família fosse sempre assim, ok? Antes que alguém reclame :P)
Por outro lado, sempre acreditei que quem convive bem com a própria companhia nunca está totalmente só. Aliás, começam a acontecer fenômenos interessantes quando você passa um bom tempo solteiro/sozinho. Eu, por exemplo, aprendi a gostar mais de ir ao cinema sozinha. E às vezes a gente só quer se esparramar na cama de casal à vontade.
Mas SATC é muito 2002. Tem uma nova série, "Girls" que fala justamente sobre garotas de 20 e poucos, 20 e tantos que foram para NY querendo viver a vida da Carrie, com sapatos lindos no closet, vernissages e baladas da nata da sociedade e caíram na real dos preços altos, dos apartamentos cheios de problemas nos encanamentos, contas caríssimas.. dividir o ap... Quem tem HBO, fica a dica. Deve ser divertido. Ou não, quem vir, me conte.
Para isto aqui não virar conversa de botequim, e porque afinal sou jornalista, de 2001 a 2009 o número de moçoilas morando sozinhas no Brasil pulou de 2,3 milhões para 3,6 milhões. Mas 2009 já faz bem mais de 3 anos. Esse número provavelmente já passou dos 4 mi. É muita menina brincando de casinha.
No entanto, um ponto nas matérias da Galileu e da Globo News me deixou ruminando... que história é essa de que quem mora sozinho gasta mais em restaurantes, boates, cinema, bares, etc? O que me irrita nessas revistas é que muitos editores traçam um objetivo antes de escrever a matéria e não param para pensar se se encaixa na realidade brasileira de fato.
Pelo menos no Rio, onde morar (acompanhado ou só, mas só ainda mais) está ficando absurdamente caro, isso não faz sentido. Especialmente para jovens profissionais, que também correspondem à maioria desses personagens.
[Um adendo: esses dias comprei o jornal pra ler na praia e fiquei chocada com os preços que os apartamentos da área em que procurei, Tijuca-Glória: já estão muito mais altos que há 12 meses. Hoje é simplesmente impossível achar algo por menos de R$ 1.000,00, condomínio + aluguel].
Ora, se moro com meus pais ou, vá lá, divido um apartamento com amigos, obviamente gasto muito menos. No máximo ajudo com algumas contas na casa dos pais e, com amigos, os valores são divididos por 2, 3, 4... Eis que resolvo morar sozinha. De repente tenho um aluguel, um condomínio, uma conta de gás (Rio), uma conta de telefone fixo (para quem ainda tem.. isso rende outro post), em alguns lugares conta de água... e vou passar a sair MAIS? Oi?
O que deduzo é que esses editores (o repórter muitas vezes só cumpre ordens) vivem no mundo cor-de-rosa das elites carioca e paulista, onde as pessoas compram a casa inteira na Tok & Stok, têm a internet mais rápida, Apple TV e não precisaram de chá de panela, porque papai e mamãe bancaram tudo. Ok, isso existe. Só não acho que seja representativo o suficiente para pautar uma matéria.
[Isso tudo só faz sentido se compararmos singles e pais/mães de família, que com certeza gastam o triplo ou mais por causa dos pequenos].
É claro que com o tempo as coisas melhoram, mas depois de me mudar passei a ir a muito menos lugares meio caros (ainda bem que o Rio tem milhares de coisas baratas/gratuitas de qualidade para se fazer).
E almoçar na rua? Sem estar no horário do expediente?! Olha, essas pessoas devem ser advogadas, médicas, traficantes ou no mínimo ter "pai rico", como diz um amigo meu. Só isso explica. Comer na rua é caríssimo e qualquer UDU sabe que comprar tudo no supermercado e aprender a fazer é a melhor coisa.
Ah, sei lá, eu sempre achei estranha essa história de escrever pra meia dúzia de rico pingado.
PS: Quem ler/ver alguma outra matéria sobre o tema, me passe o link. Sempre estou curiosa para saber como os coleguinhas falam sobre isso.