25.8.12

A mídia descobre as UDUs

(Meninos, não saiam do blog por isso, obrigada)

Um dia desses, uma amiga veio me perguntar se eu daria entrevista à Veja. A pauta era sobre jovens que optaram por morar sozinhos, uma tendência forte no mundo e, cada vez mais, no Brasil também.
O nome "Veja", apesar de ter sido a primeira palavra que li na vida, hoje me causa arrepios. Mas pensei "não é uma matéria sobre política ou algo polêmico... além disso eu poderia divulgar o blog".
Topei, a repórter deu uma passada aqui no blog e adorou, disse que eu tinha o perfil ideal para a matéria e me encheu de perguntas. Aí sumiu e depois de um tempo disse que eles preferem não entrevistar jornalistas.
Não sei se foi bem isso ou porque botei peso na questão financeira, dizendo que está tudo muito caro, que a maioria das pessoas nessa faixa de idade e morando sozinhas é dura, etc, e o público leitor/fonte da Veja está mais pra uma galera que paga um ap grande em Botafogo numa boa. Ou ganha mesada uma ajuda de custo dos pais.

De qualquer maneira, ultimamente comecei a reparar que as UDUs têm sido pauta de diversas publicações. Cheguei a comprar uma revista "Lola" para ler a matéria (não achei online) anunciada na capa sobre o tema. Bacaninha, botava peso no lado feminino da tendência, entrevistando mulheres de várias idades.

Depois saiu uma na TPM (Trip para mulheres), na revista Galileu e, recentemente, na Globo News. Fora todas as outras que devem estar por aí e não li.

Somos a ordem do dia.
É claro que essa tendência não é tão nova, mas nunca foi tão forte.
Resolvi analisar alguns pontos dessa história e como ela é encarada pela mídia.

(pausa para matar uma barata. sim, as grandes sumiram, mas as francesinhas pequenas resistiram ao K-Othrine)

A maioria das matérias fala que morar só já não é sinônimo de solidão. Concordo. Já me senti muito mais só morando em casa cheia. Solidão é estado de espírito. Me sinto muito mais acompanhada vendo um bom filme que escolhi, conversando na internet até altas horas, ouvindo música alta durante a faxina do que numa casa com várias pessoas brigadas ou que mal se encontram devido a horários diferentes, por exemplo. (Não que minha família fosse sempre assim, ok? Antes que alguém reclame :P)


Há um capítulo de Sex And The City, talvez um dos maiores responsáveis culturais (não subestime a cultura pop!) por as mulheres serem a principal novidade entre as UDUs, em que Carrie Bradshaw diz às amigas "Estou muito só. Minha solidão é palpável". É claro que há esses dias. Tem dia em que tudo que alguém que mora só quer é um abraço, um cafuné, uma massagem, e nem estou falando de sexo, mas de calor humano.

Por outro lado, sempre acreditei que quem convive bem com a própria companhia nunca está totalmente só. Aliás, começam a acontecer fenômenos interessantes quando você passa um bom tempo solteiro/sozinho. Eu, por exemplo, aprendi a gostar mais de ir ao cinema sozinha. E às vezes a gente só quer se esparramar na cama de casal à vontade.

Mas SATC é muito 2002. Tem uma nova série, "Girls" que fala justamente sobre garotas de 20 e poucos, 20 e tantos que foram para NY querendo viver a vida da Carrie, com sapatos lindos no closet, vernissages e baladas da nata da sociedade e caíram na real dos preços altos, dos apartamentos cheios de problemas nos encanamentos, contas caríssimas.. dividir o ap... Quem tem HBO, fica a dica. Deve ser divertido. Ou não, quem vir, me conte.

Para isto aqui não virar conversa de botequim, e porque afinal sou jornalista, de 2001 a 2009 o número de moçoilas morando sozinhas no Brasil pulou de 2,3 milhões para 3,6 milhões. Mas 2009 já faz bem mais de 3 anos. Esse número provavelmente já passou dos 4 mi. É muita menina brincando de casinha.

No entanto, um ponto nas matérias da Galileu e da Globo News me deixou ruminando... que história é essa de que quem mora sozinho gasta mais em restaurantes, boates, cinema, bares, etc? O que me irrita nessas revistas é que muitos editores traçam um objetivo antes de escrever a matéria e não param para pensar se se encaixa na realidade brasileira de fato.
Pelo menos no Rio, onde morar (acompanhado ou só, mas só ainda mais) está ficando absurdamente caro, isso não faz sentido. Especialmente para jovens profissionais, que também correspondem à maioria desses personagens.

[Um adendo: esses dias comprei o jornal pra ler na praia e fiquei chocada com os preços que os apartamentos da área em que procurei, Tijuca-Glória: já estão muito mais altos que há 12 meses. Hoje é simplesmente impossível achar algo por menos de R$ 1.000,00, condomínio + aluguel].

Ora, se moro com meus pais ou, vá lá, divido um apartamento com amigos, obviamente gasto muito menos. No máximo ajudo com algumas contas na casa dos pais e, com amigos, os valores são divididos por 2, 3, 4... Eis que resolvo morar sozinha. De repente tenho um aluguel, um condomínio, uma conta de gás (Rio), uma conta de telefone fixo (para quem ainda tem.. isso rende outro post), em alguns lugares conta de água... e vou passar a sair MAIS? Oi?
O que deduzo é que esses editores (o repórter muitas vezes só cumpre ordens) vivem no mundo cor-de-rosa das elites carioca e paulista, onde as pessoas compram a casa inteira na Tok & Stok, têm a internet mais rápida, Apple TV e não precisaram de chá de panela, porque papai e mamãe bancaram tudo. Ok, isso existe. Só não acho que seja representativo o suficiente para pautar uma matéria.

[Isso tudo só faz sentido se compararmos singles e pais/mães de família, que com certeza gastam o triplo ou mais por causa dos pequenos].

É claro que com o tempo as coisas melhoram, mas depois de me mudar passei a ir a muito menos lugares meio caros (ainda bem que o Rio tem milhares de coisas baratas/gratuitas de qualidade para se fazer).
E almoçar na rua? Sem estar no horário do expediente?! Olha, essas pessoas devem ser advogadas, médicas, traficantes ou no mínimo ter "pai rico", como diz um amigo meu. Só isso explica. Comer na rua é caríssimo e qualquer UDU sabe que comprar tudo no supermercado e aprender a fazer é a melhor coisa.

Ah, sei lá, eu sempre achei estranha essa história de escrever pra meia dúzia de rico pingado.

PS: Quem ler/ver alguma outra matéria sobre o tema, me passe o link. Sempre estou curiosa para saber como os coleguinhas falam sobre isso.

22.8.12

Um ano de UDU

Caros leitores

Peço desculpa pela demora.
Explico. Fiquei mais de um mês sem internet em casa. Mas o problema já foi resolvido e cá estamos nós.


Nesse meio tempo, no dia 15 de julho fez um ano que assinei o contrato e fiz a maior parte da mudança para meu apartamento. Nunca vou me esquecer desse dia, foi preciso toda uma força-tarefa. Como estava no trabalho e meu chefe já tinha me liberado algumas tardes para cuidar da papelada e ver apartamentos, pedi a minha mãe, que estava de folga no Rio e minha amiga Raquel, que estudava pela manhã e iria morar comigo, para comandarem a mudança. Não foi fácil. O caminhão passou em nada menos que três casas para pegar tudo. As duas cruzaram a cidade algumas vezes para conseguir levar a papelada à imobiliária, pegar as chaves da casa, pegar móveis em duas casas e trazer para cá - detalhe: com horários encaixadíssimos. No fim,eu que acompanhava tudo do escritório, mal acreditava que tinha dado certo. Isso foi em julho, mas só passei a morar, mesmo, em agosto.

No começo, morria de medo de dormir sozinha. Não só medo, havia um estranhamento. Parecia que tinha entrado na casa de estranhos e estava dormindo lá na ausência deles. Eu não sabia nada sobre a vizinhança, a rua, não fazia ideia se era um prédio com histórico de assaltos. Até hoje tranco a porta do meu quarto para dormir, mas nas primeiras noites eu acordava várias vezes. Cada barulho era um susto.
A casa era um deserto, comparada a hoje. No começo, mal havia onde se sentar. Amigos me ajudaram a montar a cama e o armário, um pedreiro que veio ver a infiltração (que se mostrou nos primeiros dias de uso da casa) acabou instalando a mesinha do quarto, um outro instalou o chuveiro. Meio torto, verdade seja dita.
E a cada coisa que pendurava na parede, cada "pano" que amaciava um pouco o visual duro do lugar eu dizia, empolgada "Raquel! Agora sim, tá com cara de casa!" e ela morria de rir. Eu não fazia de propósito, realmente me surpreendia de estar começando a construir minha primeira casinha, meu primeiro lar. Claro que depois isso virou uma sacanagem que servia até pra benjamim e saboneteira.

Mas para além das mudanças físicas e visuais, a casa passou a significar. Precisei ter crise de riso, amar, chorar, brigar ao telefone, abrir um presente, ouvir música alta, fazer música, declarar imposto de renda, beber, ver DVDs, receber visitas, morrer de calor no verão, acordar com câimbra no inverno, fazer meu primeiro risoto de camarão, tentar tirar a rolha de um vinho, não conseguir e empurrar a bicha até o vinho jorrar na parede inteira, ler meus livros na hora em que quisesse, com silêncio... para perceber esses 63m² como casa.

Já tive raiva desse pequeno refúgio tijucano. Por muito tempo houve baratas, em outra época exalava um inexplicável cheiro estranho, a TV não funcionava, toda semana era um problema novo. Hoje, chegar é um alívio. E foi isso que eu sempre busquei morando sozinha.

Non, je ne regrette rien.

Coisas que aprendi morando 1 ano sozinha

- Antigos objetos de desejo, como roupas e sapatos (para mulheres, pelo menos) ficarão em segundo plano. Da noite para o dia, você só tem olhos para almofadas, molduras, pôsteres,  etc, etc, etc.

- Azeite é a melhor coisa para acabar com rangido de filme de terror em portas. É jogar um pouco sobre as dobradiças e o silêncio voltar a reinar. Imediatamente.

- Geladeira/fogão/máquina descascou? Passe um esmalte branco sobre o buraquinho. Esmalte de unhas, mesmo, que se encontra em qualquer farmácia. Isso impede que o buraquinho vire um buracão e enferruje.

-Se você guarda Nutella na geladeira, um banho maria ou um tempinho no micro-ondas transformam a pasta em uma calda de chocolate. Com morango fica ótimo.

- Uma caneta permanente (antiga "caneta de retroprojetor"... para os maiores de 25) preta é incrível para retocar coisas pretas descascadas ou manchadas de tinta, por exemplo.

- Vai fazer obra? Qualquer obra? Lençol sobre tudo que possa ficar cheio de pó. Muito pior que o pó em si, o cheiro pode impregnar por meses.

- A imobiliária só existe para dar moral para o proprietário e te f... mais.

- Um avental bonito melhora o humor na hora de cozinhar e lavar louça. Sério.

- Sua felicidade diária depende de um dispositivo do qual você nem se lembra, e o nome dele é disjuntor.

- Síndico é um representante direto do demônio.

- Síndico E proprietário é o próprio Satã. Especialmente se ele morar no prédio, como o Seu Élvio.

- Fazer bolo, comprar lírios e lavar a roupa, especialmente com sabão líquido, são aromatizantes sensacionais para a casa.

- O apartamento pode estar quase perfeito. Se faltar um azulejo depois da obra do banheiro, é nisso que você vai pensar sempre.


- Música + faxina = lazer

- Faxina + inverno = tortura (via Amélia Sabino)


- Chão liso + faxina = videocassetada

- Você pode não ter internet, TV a cabo e videogame. Mas tenha música. E livros.

- Por que as pessoas falam tanto de trocar lâmpada? É ridículo de fácil.

- Passar lençol de casal com elástico é a tarefa mais inutilmente cansativa que eu não consigo deixar de fazer.

- Não importa se o síndico ou vizinho é um imbecil: trate-o bem. Amanhã você pode precisar dele. Ou simplesmente pode querer que ele não te encha o saco.

O Perdida na UDU está de volta, amigos.