2.7.12

(Não) vem Kafka comigo!

Tenho este blog desde abril e, apesar de anunciar e anunciar, até hoje não falei das famigeradas e famintas baratas.

Quem mora ou já morou numa UDU sabe: elas são inevitáveis. Seja você pobre, classe mé(r)dia, "bem de vida" ou até rico, um dia esse encontro, tão bem cantado pelos Inimigos do Rei, (entregando a idade) acontecerá. Seu prédio pode ser phyno e dedetyzado, mas tudo nessa vida tem prazo de validade, neam, e a dedetização não foge à regra. Como o meu prédio mal tem sinal de TV e celular, vocês podem imaginar que las cucarachas são minhas housemates há quase um ano.
Bom, até junho, quando finalmente consegui extinguir a espécie (pelo menos lá em casa) e já contarei como.


Na casa dos meus pais, raramente havia baratas. Ok, na casa baixa da infância elas eram muitas e me lembro de eu ou alguma irmã esmagando uma, viva, que estava dentro do tênis no armário. E de quando papai abriu a caixa de gordura da casa e uma enxurrada dos insetos asquerosos saiu correndo pelo chão da garagem, lembrando aqueles ataques de escaravelhos de "A múmia". Nunca vou me esquecer daquela cena na aurora da minha vida em algum verão voltarredondense.
Há mais de 10 anos, no entanto, papai descobriu o tal "remedinho" milagroso que afastou o bicho do nosso convívio para sempre.

Por que então eu não usei logo isso? Bom, como já disse por aqui, penso em ter um gato, um dia.  E por ser muito tóxico, esse remédio não pode ser usado quando se tem animais de estimação. Então fui adiando por meses a aplicação. Só que o gato não vinha e as baratas continuavam fazendo a festa. Já cheguei a encontrar duas (das grandes, cascudas) em um mesmo dia.

A cena da mulher com nojo de barata e fazendo escândalo é um clássico super fiel à realidade. Uma vez gritei tanto por causa de uma barata voadora (que veio em minha direção! pense!!), que ouvi os vizinhos interrompendo sua conversa para saber se alguém estava tentando me matar. Tive que começar a gritar "ai que nojo! morre, barata!" para eles ficarem tranquilos.


O que eu não imaginava é que o nojo passaria paulatinamente a ódio, repulsa, sede de vingança.
Encontrar uma barata na casa, de um acontecimento pitoresco e que exige coragem (porque nunca me esquivei de matá-las, sempre encarei as bichas) passou a me irritar profundamente e acabar com o meu humor em segundos.


Lembro que, uma vez, na frente do famoso Mundial do Largo da Segunda-Feira, parei curiosa para ver uma pilha de LPs super antigos, com cara de anos 50, mesmo, encostados ao pé de um poste. Os nomes eram super divertidos (não me lembro exatamente agora porque bloqueei), músicas de "boas vindas", etc, e as capas tinham ilustrações parecidas com os traços de pin-ups, uma graça.
É claro que não ia pegar no lixo alheio, então comecei a "passar" os LPs com os pés, mas eis que, sob os últimos, surge um ninho de baratas.

Me lembro do gosto de fel. Meu sorriso murchou e, puta, continuei andando para casa. Baratas não têm graça. Baratas são um erro de Deus. Sim, Deus errou quando criou as baratas.

Quando percebi que quase sempre as encontrava na cozinha, mesmo tirando sempre o lixo, comecei a fechar todo dia as janelas do cômodo para o prisma do prédio. As grandes, turistas, pararam de chegar. Mas era tarde demais: uma barata havia parido uma ninhada em algum lugar da minha cozinha.

E dessa vez elas eram albinas, pequenas e magrinhas. As famosas "francesinhas". Algumas eram tão pequenas que uma época eu perdi a paciência e o bom senso e esmagava com a mão, mesmo. Sim, é nojento. Viver sozinha revela facetas nossas que nunca imaginamos ter.

Mas acho que o pior foi encontrar duas baratas acasalando no Dia dos Namorados. Não bastassem os outdoors, comerciais e posts no Facebook, cheguei em casa e vi duas baratas namorando. Morreram literalmente no ato. Não é todo mundo que tem o privilégio de morrer assim.

Me lembro de um dia chegar bêbada em casa e dizer "Vocês sempre estão no fogão, né? Beleza. Agora vocês vão ver". E acendi as quatro bocas e o forno, no máximo. Depois de cinco minutos apareceu uma, desnorteada. Paf. Depois de 10, várias. Depois de 15, as últimas, mais resistentes. Se sobrou alguma, é daquelas que resistem à bomba atômica. Fui dormir realizada. Acho que naquela noite, nem se tivesse ficado com um gatinho no bar dormiria tão feliz.

Mas é claro que outras vieram, até o dia em que acordei determinada a me livrar das baratas. Como?

ASSIM.
E se você tem baratas em casa, caro leitor, cara leitora, esse é o melhor conselho que posso lhe dar.  K-Othrine. Encontra-se em qualquer pet shop de bairro. Custa em média R$ 9 e vai salvar sua vida.

É hoje o dia da alegria

Antes de mais nada, K-Othrine é um veneno, então use luvas. Pode ser a que você usa para fazer faxina (a de lavar louça, não!) ou aquelas de médico, de pintar os cabelos, etc. Qualquer coisa que te separe do líquido branco mágico.

Usando as medidas da bula, você vai diluir uma parte do líquido em outra bem maior de água. Se conseguir encontrar uma seringa  (para usar sem agulha) grande, onde caiba bastante líquido, beleza. Eu procurei e só achei seringa fininha mesmo, teria que ficar "recarregando" toda hora. 
Então peguei uma garrafinha dessas de água mineral, comum, fiz um furo com garfo na tampa e pronto: tinha uma seringa improvisada. 

Depois de diluir o veneno, é hora de esguichar o líquido ao longo do rodapé da casa inteira. Todos os cômodos, sem dó. É bom aproveitar um dia de faxina, quando vai estar tudo limpinho e sequinho. Se tiver um borrifador que possa inutilizar (não vai pegar o das plantas ou de passar roupa, né?), borrife onde as malditas costumam andar: fogão, paredes, geladeira, etc. Não use esses recipientes para mais nada.

Em poucos dias você só encontrará carcaças, imóveis. E nada se compara a essa sensação


A duração do efeito varia, mas depois de seis meses é bom reaplicar.
Hoje minha casa é livre de baratas. O gato pode esperar um pouco mais.

PS: se você tem bichos ou crianças em casa, fuja do K-Othrine.